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Atletas da região convivem com o dilema dos 17 anos
Kati Dias
Especial para o Diário
28/11/2004 | 14:19
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Os nadadores que completam 17 anos têm um grande dilema: continuar com a carreira ou largar tudo para buscar outra profissão. A rotina estafante de treinamentos, que chega a quatro horas por dia – três na água e mais uma de treino físico – de segunda à sábado, desistimula qualquer um que deseja conciliar o esporte com os estudos. Por causa dessa lacuna, muitos clubes investem na manutenção das categorias de base.

O sistema educacional brasileiro entra em conflito com a prática esportiva, por não permitir dispensa de faltas e mudança de datas de provas que coincidem com o calendário esportivo. É por isso que o estudante Bruno Arronque, 18 anos, abandonará o Mesc/São Bernardo no próximo ano. O nadador cursa o primeiro ano de Engenharia Mecânica e tentou alternar os treinamentos com a faculdade. "É muito complicado, porque já tive de desistir de competições por causa das provas", afirmou. Bruno explicou que não vai participar do Brasileiro de Natação, em dezembro, no Rio, por causa dos testes. O melhor resultado de Bruno foi vice-campeonato brasileiro juvenil em 2002.

Para o ex-nadador Gustavo Borges, as universidades teríam de participar mais da vida esportiva. "No Brasil, a formação de um atleta acaba sendo uma responsabilidade de um clube. Ao invés de ser uma aliada, a área educacional age como uma vilã", revelou Borges. O paulista passou dez anos nos Estados Unidos e se formou em Economia na Universidade de Michigan. O ex-nadador explicou que o sistema educacional norte-americano auxilia os atletas. "Morava e treinava na própria universidade. E quando tinha alguma competição, os professores permitiam que entregasse trabalhos ou fizesse alguma prova quando voltasse", disse.

O diretor de natação de São Caetano, Antônio Carlos Adolfo, concorda com o medalhista olímpico. "A educação brasileira atrapalha o desenvolvimento dos atletas em geral. Vestibular, trabalhos e provas para dar conta. É difícil conciliar tantas atividades e a maioria opta pela desistência. Por causa disso, perdemos muitos talentos", disse Adolfo. O Serc/Santa Maria/São Caetano perdeu 15 atletas do juvenil (16-17 anos) para o júnior (18-19 anos). Somente 20 continuaram os treinamentos no júnior. "Muitos voltam depois dos dois primeiros anos, mas não recuperam a antiga forma", disse Adolfo.

Em São Bernardo, o abandono é mais acentuado. Além de Bruno, o Mesc já perdeu 16 nadadores neste ano. Para o diretor técnico de natação do Mesc, Adilson Zambelo, o Chinho, a busca por uma nova carreira é motivada pela falta de patrocínio. "Este é um momento crucial na vida deles e precisam trabalhar para sobreviver", afirmou Chinho.

Já a equipe do Pinheiros/Santo André não sofre tanto com as desistências. Segundo o técnico Alberto Pinto da Silva, o Albertinho, a maior parte dos nadadores tiveram um espelho vitorioso: o nadador Gustavo Borges, que treinou nos dois últimos anos no Pinheiros. "Os atletas perceberam que se tivessem a determinação de Borges conseguiriam chegar ao apogeu", disse Albertinho.




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