Na primeira, Marinelza era mãe de Kelly, vivida por Maria Maya, que engravida aos 15 anos. Já Amapola virou avó depois que Luiza, interpretada por Bárbara Borges, dá o golpe da barriga em seu filho, Alfredo Henrique, personagem de Miguel Thiré.

Desta vez, no entanto, o autor Ricardo Linhares acabou surpreendendo a atriz com a gravidez tardia de Tintim. “Passei de avó a mãe!”, diz, brincalhona.

O que mais atraiu Zezé na batalhadora Tintim, no entanto, foi a possibilidade de dar vida a uma mulher absolutamente comum depois da tresloucada Amapola. “Fiquei com medo de virar uma atriz especialista em fazer peruas. Não acho a menor graça nisso”, afirma.

De perua, Zezé não tem nada. Além disso, ela exibe uma considerável galeria de tipos que inclui, entre outros, a beata Dona Neném em Hilda Furacão e a vilã Firmo em Memorial de Maria Moura.

TV PRESS - Você imaginava a possibilidade de viver uma personagem grávida quase aos 50 anos?
ZEZÉ POLESSA - Não. Em meus últimos trabalhos, já estava vivendo a avó, com a gravidez indesejada de adolescentes. Foi mesmo uma surpresa a grávida da vez ser eu mesma.

TV PRESS - Isso faz você acreditar que se tornou também mais fácil haver bons papéis para mulheres acima dos 40 anos?
ZEZÉ - A TV tem uma certa gula pelo novo, ou pela juventude, não sei bem o que é. Mas não acho também que faltem bons papéis. Outro dia mesmo participei de uma matéria que falava das mulheres de 40 que estão aí na TV, bonitonas. Acho que não é nem questão de estarem bonitonas. É de ter personagem mesmo. Agora, por exemplo, em Mulheres Apaixonadas temos os personagens da Christiane Torloni, da Suzana Vieira. Em Agora É Que São Elas temos a Joana Fomm, a Yoná Magalhães, a Marisa Orth. Mas esta coisa da imagem é mesmo cruel.

TV PRESS - É um aspecto que preocupa você?
ZEZÉ - Preocupa um pouco sim. Não exatamente a possibilidade de faltar trabalho, mas a forma como vou reagir à passagem do tempo. Nunca fui uma daquelas belíssimas, de quem se cobra juventude eterna. Além disso, no teatro, só dependo de mim mesma – da minha cabeça para decorar, do meu corpo, da minha saúde, do amor que eu tenho por isso, que se reverte em cuidados que vou ter para manter minha capacidade de trabalhar. Claro que não vou fazer com 60 anos uma mulher de 20, mas posso fazer uma de 40.

TV PRESS - O tema do papel da mulher na sociedade foi um dos fatores que atraíram você na novela?
ZEZÉ - Não necessariamente. Já estava mesmo com saudades das novelas. O tema não é nenhuma novidade. Este movimento, na minha vida, na vida da minha família, já existe desde cedo. É uma conseqüência da própria economia do país, porque uma família não se sustenta mais só com o homem trabalhando. E esta divisão das mulheres entre o ambiente familiar e o profissional gera muitas angústias. Tanto que hoje muitas mulheres estão se aposentando por volta dos cinqüenta e poucos anos, cheias de energia, mas fazem questão de ficar em casa.

TV PRESS - E você também pensa em se aposentar?
ZEZÉ - De jeito nenhum! Não consigo me imaginar sem interpretar. Acho que isso depende também da experiência profissional que cada um tem, do grau de prazer ou estresse que se tem no trabalho. Enquanto tiver condições de atuar, tiver memória para decorar os textos e corpo para emprestar a um personagem, estarei por aí, firme e forte.