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Filas e sonho da casa própria marcam acampamento de sem-teto
Elaine Granconato
Do Diário do Grande ABC
26/07/2003 | 19:23
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De barraca em barraca, entre as 4 mil famílias que ocupam há oito dias o terreno da Volkswagen, na Vila Ferrazópolis, em São Bernardo, o discurso se repete: todos dizem morar “de favor”, em barracos ou na casa de parentes. Outros estão sendo despejados por falta de pagamento de aluguel. Procuram ali o sonho de ter a casa própria.

“Em duas horas ergui essa barraca, em esquema de mutirão, da mesma forma que pretendo construir a minha casa aqui para morar futuramente”, disse Gilson dos Santos Moura, 25 anos, que faz bicos na área da construção civil.

Moura, que pintou na lona preta as siglas do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), chegou ao acampamento Santo Dias no dia 19 de julho, às 16h. “Moro de favor na casa da minha mãe no Jardim Silvina. Preciso ter meu próprio canto”, afirmou.

Sua noiva, Adriana Pereira das Neves, 28 anos, vizinha de Moura, visitou o rapaz na sexta-feira à tarde. “Minha mãe deixa eu vir para cá só durante o dia”, disse, ao ressaltar que também não possui casa própria.

Moura, com outros amigos, construiu uma barraca que funciona como quartel-general, inclusive com uma porta improvisada de telha plástica. “Aqui a gente dorme à noite, todos juntos, mas cada um tem sua barraca”, afirmou.

O mesmo sonho nutre a família da dona de casa Marlene Ermínio Gomes, 30 anos, mulher de um metalúrgico desempregado há quase dois anos e mãe de cinco crianças. Três delas transformaram parte do terreno em um campo de futebol. “Passamos muitas dificuldades por conta do desemprego, principalmente na hora da alimentação. A gente recebe doações do culto evangélico que freqüentamos”, disse. Assim como os outros, ela divide um único barraco com a mãe, que mora no Jardim Limpão, uma das áreas mais carentes de São Bernardo.

Amizade – A maioria das pessoas que está no acampamento do MTST é retirante, mas atualmente mora em áreas pobres de São Bernardo. Entre eles o cearense Antônio Idalécio Ferreira de Souza, 15 anos, que fez amizade com Eduardo Romeu da Silva, 12, e José Maik de Araújo Costa, 10, moradores em bairros próximos do terreno. “Estamos aqui porque não temos para onde ir”, afirmou Costa.

Independentemente do problema da falta de moradia, os novos amigos aproveitam para brincar de esconde-esconde e pega-pega. À noite, para espantar o frio, a fogueira é outra aliada.

Com apenas um banheiro no acampamento dos sem-teto, que não comporta o número de pessoas, a alternativa que resta é desenvolver formas criativas para amenizar parte das dificuldades. Uma mangueira, instalada perto da entrada do acampamento, serve para as mulheres lavarem as panelas e vasilhas plásticas e até mesmo para um rápido banho. Mesmo que tenha de ser tomado de roupa. O maior problema, no entanto, fica por conta da fila.




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