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Principais fatos da ocupação do terreno da Volkswagen
Do Diário do Grande ABC
26/07/2003 | 19:30
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Sábado, 19
Cerca de 800 pessoas – contabilizadas pela liderança do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) até 15h – invadem o terreno de 200 mil m² na altura do número 1.277 da avenida Doutor José Fornari, onde funcionava até 1990 a fábrica de caminhões da Volkswagen. As famílias chegam a todo momento ao terreno. No mesmo sábado, a coordenação do movimento estima em 400 famílias o total de acampados até o dia seguinte.

   Domingo, 20
O número de acampados é cinco vezes maior do que a estimativa feita pela coordenação do movimento no dia anterior. Segundo lideranças do MTST, 2 mil famílias já teriam se instalado no local. A coordenação batiza a área com o nome de Santo Dias – metalúrgico morto pela polícia numa greve na capital, em 1979, e transformado em símbolo do movimento operário.

   Segunda-feira, 21
Rodeado por favelas, o terreno não pára de receber pessoas que chegam das imediações. No dia em que a Volkswagen anunciou o corte de 4 mil vagas, entre 3,5 mil e 4 mil famílias já ocupavam, até o fim da tarde, o local. A maioria das pessoas é de São Bernardo, mas há famílias vindas de Diadema, Santo André e de outras cidades da Região Metropolitana. A coordenação do MTST afirma que as famílias serão recebidas enquanto houver espaço no terreno.

Terça-feira, 22
No fim da tarde, a Justiça de São Bernardo concede liminar a favor da Volkswagen, em ação de reintegração de posse do terreno movida pela empresa. Com respaldo da Justiça, a expectativa era de que a ordem de retirada das famílias instaladas no terreno – mais de 5 mil de acordo com o MTST – poderia acontecer a qualquer momento. Na noite de terça-feira, a reportagem do Diário encontrou uma Kombi que estaria transportando acampados de São Bernardo para Guarulhos e vice-e-versa. O carro é de responsabilidade do vereador Aldo dos Santos (PT).

   Quarta-feira, 23
O repórter fotográfico a serviço da revista Época Luís Antônio da Costa, 36 anos, é assassinado com um tiro no peito na tarde do quinto dia do movimento, enquanto cobre a ocupação. O autor do homicídio foge em meio ao tumulto. La Costa, como era conhecido, estava em uma roda com outros jornalistas e o homem que o matou teria ido diretamente em sua direção. A principal hipótese para os motivos do homicídio é de que ele poderia ter fotografado um assalto ocorrido em um posto de gasolina, minutos antes de ser morto por um dos ladrões. Surgem versões de que o crime foi cometido por integrantes da ocupação. O fato provoca comoção entre jornalistas, integrantes do MTST, representantes de associações de classe e políticos, com manifestações do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e do porta-voz da Presidência, André Singer. Uma fotografia de André Porto, do jornal Agora São Paulo, tirada instantes depois do crime, mostra um homem com um revólver na mão.

   Quinta-feira, 24
Três testemunhas confirmam que o homem fotografado é um dos criminosos que assaltaram o posto de gasolina. Eles também confirmam que um segundo homem, também armado, participou do roubo. Outro cúmplice fazia a cobertura do crime. Cerca de 4 mil pessoas comparecem ao enterro de La Costa, em Borda da Mata (MG). Uma reunião na sede do CPAM-6 (Comando de Policiamento de Área do Grande ABC) define a suspensão da reintegração do terreno até segunda.

   Sexta-feira, 25
Com base em depoimentos de testemunhas do crime, a polícia divulga as fotografias feitas pelo Agora São Paulo que identificam os cúmplices do autor do homicídio. Quatro homens são detidos pela polícia, mas são liberados depois de prestar depoimento. Em meio à celeuma em torno da ocupação do terreno da avenida Doutor José Fornari, o governador Alckmin pede aos prefeitos da região que recebam as famílias sem-teto desalojadas nesta semana do hotel Danúbio, na capital. Nenhuma das esferas de poder – municipal, estadual e federal – tem propostas imediatas para resolver o problema das 5 mil famílias que a essa altura ocupam o terreno. O presidente da Câmara de Vereadores de São Bernardo, Laurentino Hilário (PSDB), pede uma sindicância interna para apurar a denúncia contra o vereador Aldo dos Santos.

Sábado, 26
A coordenação do MTST diz que os sem-teto vão morar no Palácio do Governo caso tenham de sair do terreno da Volkswagen. O presidente da CUT, Luiz Marinho, visita o acampamento para dar apoio ao movimento. Mais famílias chegam ao terreno e os barracos começam a ser numerados.




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