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Mostra da Mostra tem rodada imperdível no Cacilda
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
19/02/2003 | 18:44
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Mais duas semanas (ou quatro filmes) e estará encerrada a terceira edição da Mostra da Mostra, que São Bernardo realiza amparada pelo acervo e pelo logotipo do evento anual criado por Leon Cakoff em São Paulo. Começou bem e termina sem decréscimo à qualidade dos longas-metragens projetados. Ainda em janeiro, a abertura foi com A Professora de Piano, o filme semibergmaniano de Michael Haneke. Agora, penúltimo fim de semana da Mostra alocada no teatro Cacilda Becker, são duas atrações tão diversas quanto interessantes, com ingressos a R$ 2.

Histórias Proibidas é o primeiro. É exibido nesta quinta, às 20h, sábado e domingo também. Todd Solondz, o diretor, infantiliza a causticidade de seus longas anteriores, Felicidade e Bem-Vindo à Casa de Bonecas, mas continua na bravata contra o consumismo, já institucional, dos Estados Unidos.

O filme é dividido em dois episódios. Ficção, o primeiro, fala de uma aluna (Selma Blair), a princípio racista, que se dobra aos conselhos de seu professor (negro). Remete à construção do país, acusa-o de só ser potência por ter operado na base da discriminação. É um prólogo do segundo episódio, Não-Ficção, sobre um protótipo de Kaspar Hauser, o garoto Scooby (Mark Webber). Ele é convidado por um cineasta para ser tema e personagem de um documentário sobre a juventude nacional. Scooby vira títere da fama.

O retrocesso etário é evidente em Histórias Proibidas, explícita ou implicitamente. Felicidade foi interpretado como um Beleza Americana sem a delimitadora e calculada poesia de Sam Mendes. No filme projetado nesta quinta no Cacilda Becker, Solondz deixa ver a receita do bolo, como um confeiteiro desobrigado de homogeneizar a massa. Antes de ir às vias de fato, faz uma liminar para expor o que será (sistematicamente) atacado nos minutos seguintes. Alimenta tão-somente uma sede de desforra no espectador, ansioso para vislumbrar as ruínas da América setentrional. Pena que os ataques escorram pela superfície.

Velha conversa – Arretado mesmo é Gente da Sicília (1998), filme programado para esta sexta, sábado e domingo. Já comparado a Jacques Rivette, o casal de co-diretores Danièle Huillet e Jean-Marie Straub faz um belo filme. São antípodas do filme industrial, não admitem técnicas vulgarizadas. Sem alarde, propagam em imagens o que o Dogma 95 precisou imprimir como um decálogo de regras para se distanciar do cinemão.

A principal regra é não apelar para uma ação superficial – um assassinato ou um mecanismo banal qualquer para estourar o conflito. Baseado em livro de Elio Vittorini, Gente da Sicília é feito de conversas apenas, que guiam um homem em busca de sua mãe siciliana. Ele proseia com um vendedor de laranjas, um passageiro no trem, um afiador de facas até encontrar a matriarca. Simples assim.




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