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Regiao debate venda de armas
Flávio Leal
Da Redaçao
28/11/1999 | 19:20
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De um lado, lideranças civis e o governo federal. Do outro, fabricantes e deputados. A polêmica sobre a proibiçao do comércio das armas de fogo, prevista originalmente em três projetos de lei que tramitam nos parlamentos do país, consome discussoes.

O Diário ouviu cerca de 80 moradores, deputados e lideranças das sete cidades da regiao sobre o assunto. Ouviu também juristas e pesquisadores. Do total, somente quatro pessoas defenderam o comércio de armas de fogo. "Sou contra essa lei que estao propondo. Se proibirem, os bandidos vao ter a certeza de que eu estou desarmado", acredita o barbeiro Wilson Carlos Gropo, de Rio Grande da Serra. Mas, como admite o Ministério da Justiça, autor do primeiro texto prevendo a restriçao, existe resistência principalmente na Câmara dos Deputados para aprovar uma lei neste sentido.

O projeto original já sofreu alteraçoes. O deputado Alberto Fraga (PMDB-DF) retirou do texto o veto à comercializaçao de armas de fogo para cidadao comum, justamente o ponto principal da lei. Outros dois novos projetos, dos senadores José Arruda (PSDB-DF) e Romero Jucá (PSDB-RR) preveêm essa proibiçao.

Todos os deputados federais da regiao foram a favor da proibiçao. Jair Meneguelli (PT-SC) afirmou que a aprovaçao seria uma coisa lógica. "Fabricar arma é fabricar assassinatos", disse. Ele lembra que o cidadao comum com uma arma na mao pode cometer um crime num momento de tensao. "Arma só serve para desastre, desgraça. Temos de proibir este comércio", concorda o torneiro Orlando Souza Santos, de Ribeirao Pires.

"A nossa bancada (PT) toda é a favor. Esta lógica da populaçao se armar para combater a criminalidade é perversa", afirmou o deputado Luiz Carlos da Silva (PT-SA). "Tem de proibir a venda. Estao acontecendo muitas mortes à toa", endossa o taxista de Sao Bernardo Joel Vieira.

Clóvis Volpi (PSDB-RP), o único que tem uma fábrica de armamento na sua base eleitoral - a Companhia Brasileira de Cartuchos, em Ribeirao Pires - também é a favor. "Os fabricantes alegam que muita gente perderia o emprego por causa da proibiçao do comércio. Eu nao acredito. Se existir uma loja de armas para um milhao de habitantes é muito", disse. Para ele, o ganho que poderia haver com a diminuiçao da violência seria compensatório.

O deputado Duílio Pisaneschi (PTB-SA) afirmou que a questao merece mais discussao. "Nao sei se esse é o caminho (proibir). A pessoa nao pode estar em sua casa e ser surpreendida por um ladrao com arma e nao ter uma para se defender. Depois que os bandidos estiverem desarmados, poderíamos até discutir uma proposta dessas", afirmou.

Antônio Carlos Cedenho, presidente da Subseçao da Ordem dos Advogados do Brasil em Santo André, afirmou que a pessoa andar armada nao significa estar segura.

Dalmo de Abreu Dallari, jurista e professor da Universidade de Sao Paulo, acredita que a circulaçao de armas só defende os bandidos e a liberaçao delas só favorece os fabricantes.

O ministro da Justiça, José Carlos Dias, quer a comercializaçao apenas das armas de cartucho (espingardas) para pessoas que moram em locais distantes e eventualmente tenham de se defender de bandidos ou animais.

Os últimos dias no Congresso têm sido marcados pelas visitas constantes de empresários e diretores de fábricas ligadas a armas e muniçao. Os lobistas do setor alegam que, somente no Rio Grande do Sul, onde está concentrada a maior parte dos fabricantes, chegaria a 30 mil o número de empregos perdidos com o fechamento das fábricas - 20 mil diretos e 10 mil indiretos.




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