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Festival Internacional de Londrina começa em maio
Do Diário do Grande ABC
18/04/2000 | 16:23
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Com a promessa de unir todas as artes - teatro, cinema, música, literatura, circo, dança, arquitetura, artes plásticas, moda e até mesmo culinária -, começa em maio a programaçao da 33ª ediçao do Festival Internacional de Londrina (Filo), o mais antigo e mais importante festival internacional de artes cênicas do Brasil. "Filo 2000 - Ano 0, de Todas as Artes", o título desta 33.ª ediçao, dá a idéia do conceito que orienta a programaçao do Filo.

Nitis Jacon, diretora do festival, planeja reunir em Londrina desde criadores como o cineasta Thomas Vinterberg - representante do movimento Dogma 95 e diretor do filme "Festa de Família", que irá debater com o público após apresentaçoes dos filmes do movimento - até o palhaço Tortell Poltrona, que trabalha com refugiados de guerra de vários países do mundo e dará oficinas de clown na periferia da cidade.

Pino Di Buduo, diretor italiano do grupo Potlach, Nicoletta Robello, do Centro de Experimentaçao e Pesquisa Teatral de Pontedera, e Antunes Filho, Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal estao entre os artistas do Brasil e do mundo que participam da programaçao. Até o dia 18 de junho, criadores de diferentes áreas terao passado por Londrina seja integrando a equipe de algum dos 60 espetáculos do Filo, seja atuando num dos 24 "Projetos de Maio", a novidade desta 33ª ediçao.

Do dia 1º ao dia 30 de maio, o Filo inaugura um novo formato de festival de artes cênicas ao promover uma série de atividades de profunda inserçao social, cujo objetivo é fazer do festival muito mais que um mero evento: torná-lo fato cultural com inteferência direta na vida cultural da comunidade. Em junho depois de ter envolvido toda a cidade - e outros Estados do país -, os organizadores concentram energias na mostra de espetáculos.

Moda e culinária - Os chamados projetos de maio sao os mais variados, desde oficinas de clow dirigidas pelo grupo paulistano Parlapatoes com presidiários de Londrina até oficinas de gastronomia, ministradas pelo chef Antonio Maschio. E, ainda, oficinas de moda para as quais a organizaçao do festival foi buscar a experiência da Coopa Roca, a Cooperativa das Artesas e Costureiras da Rocinha, no Rio, que vai atuar em parceria com o Curso de Estilismo e Moda da Universidade de Londrina num trabalho com as costureiras locais.

Antunes Filho comparece com as cenas de "Prêt-à-Porter", cujo caráter didático serve perfeitamente a um dos objetivos desse festival: apurar o espírito crítico do público. Entre os grandes nomes do teatro paulistano estará ainda Gianfrancesco Guarniere, que levará poesia ao palco numa homenagem especial a Joao Cabral de Melo Neto. "Estamos assumindo nossa responsabilidade como agentes culturais de criar um novo paradigma de açao cultural", diz Nitis Jacon. Religar arte e sociedade, pensar a cultura como processo e nao como produto de compra e venda a ser exibido e fomentar a criaçao sao algumas das funçoes que essas atividades de maio querem cumprir. Algo mais que necessário num país de claudicante política cultural. "Com os projetos de maio queremos detonar processos crítico-criativos, que propiciarao até uma melhor recepçao dos espetáculos do Filo".

Mas maio nao será um mês só de oficinas no Filo. No dia 2, a companhia espanhola Carles Santos colocará cinco pianos no palco do Cineteatro Ouro Verde para a apresentaçao de "La Pantera Imperial", que abre a programaçao artística do festival. Simbolicamente, o espetáculo realiza no palco o conceito de transcultural que perpassa toda a ediçao. "A idéia de transcultural é ainda mais ampla que a de multicultural, porque se baseia no trânsito entre as diversas culturas e áreas da criaçao artística", diz Nitis.

"La Pantera é um espetáculo transcultural por excelência". No palco, cinco pianos, três deles de cauda, dos quais os músicos tiram acordes de uma sinfonia de Bach. "Eles mesclam no palco o canto lírico, a dança, a palavra e a música, num espetáculo de uma plasticidade maravilhosa", afirma a diretora.

Outro trabalho que certamente vai atrair os olhares de todo o Brasil sobre Londrina será realizado pelo diretor italiano Pino Di Buduo, que vem desenvolvendo em vários países o trabalho chamado "Città Invisibili". Antes de iniciar esse trabalho, ele passa pelo menos um mês na cidade conversando com diversos moradores. "A idéia é tornar visível a memória e o imaginário dos habitantes sobre sua cidade, tornar visível um cidade invisível no dia-a-dia", explica Nitis.

Trabalhando com 25 pessoas de sua equipe e mais 120 brasileiros, Buduo vai reproduzir no imenso campus da Universidade de Londrina bairros e pedaços da cidade, utilizando os mais diversos materiais, como centenas de metros de tecidos, terra e água. "Ele conversou com pioneiros - vale lembrar que Londrina tem apenas 65 anos -, visitou Museus e foi resgatando a memória da cidade", comenta Nitis.

Afinal, mesmo tao jovem, a cidade já teve bairros descaracterizados e já tem saudades do passado. "Na 'Cidade Invisível' que será criada, os moradores vao voltar a pisar no barro vermelho no qual os pés afundavam há 40 anos". Como o crescimento rápido e desordenado nao é privilégio de Londrina, caminhar por essa "instalaçao gigante" vai agradar aos brasileiros de vários Estados que estarao na cidade atraídos pelo festival. E nessa "Cidade" se misturam diversas linguagens artísticas: arquitetura, artes plásticas, música e teatro.

Sem dúvida o festival mais afinado com a complexidade do mundo contemporâneo, o Filo é promovido pela Universidade Estadual de Londrina e pelo Grupo de Teatro Núcleo I. Até agora, conseguiu o patrocínio da TIM - Telepar Celular, da Companhia Estadual de Eletrecidade (Copel) e do Serviço de Comunicaçao e Telefonia Celular (Sercomtel), além de apoios locais.




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