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Produções brasileiras marcam presença em Toulouse
Da AFP
15/03/2005 | 18:32
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Com mais de 30 filmes de animação, o público do Festival de Toulouse pôde ter contato com o melhor da produção recente de desenhos animados brasileiros, no âmbito da Carta Branca dada pelos organizadores ao Anima Mundi, festival anual de animação celebrado em São Paulo e Rio de Janeiro.

Curtas e longas-metragens ou telefilmes feitos com as mais diversas técnicas, desenhos artesanais, pintura sobre fotografia, desenhos em computador ou modelados, a mostra é um verdadeiro panorama da animação brasileira, rica em sua diversidade temática e estilística.

O festival Anima Mundi é celebrado no Brasil desde 1993. Aida Queiroz, sua co-diretora, que também é diretor de filmes de animação, revelou as dificuldades que durante doze anos a equipe do Festival enfrentou para obter o reconhecimento nacional e internacional. "O cinema de animação estar presente neste festival é uma vitória. É preciso dizer que o cinema de animação não era reconhecido no Brasil até recentemente, mas é verdade que o cinema clássico tampouco era muito teconhecido", destacou.

Queiroz integra a equipe de quatro pessoas que há mais de uma década vem defendendo a animação brasileira e construindo o Anima Mundi. "Durante anos não tivemos qualquer apoio. Apesar das dificuldades, nós acreditávamos no poder de comunicação da linguagem do cinema de animação e persistimos. Nos anos 90, quando havia uma renovação no cinema de animação mundial, não queríamos que o Brasil ficasse de fora desta riqueza", comentou.

"Hoje podemos dizer que conseguimos que houvesse no Brasil uma política cultural para o cinema de animação e além disso, existe um mercado que se expande", destacou, explicando que quando foi realizado o primeiro Anima Mundi, o festival apresentou filmes procedentes da Europa e do Canadá, mas nenhuma produção brasileira.

Atualmente o Brasil é o país que mais produções leva para o festival e no ano passado, entre Rio e São Paulo, o Anima Mundi reuniu 95 mil espectadores, reforçou. "A existência do festival no Brasil também permitiu que conseguíssemos um reconhecimento internacional, um reconhecimento necessário visto que o cinema de animação é uma verdadeira arte", concluiu Aida Queiroz.

Cineasta brasileira também em Toulousse - A cineasta brasileira Helena Solberg, que foi escolhida para encerrar o Festival de Toulouse com o filme 'Banana is my business', sobre Carmen Miranda, apresentou nesta terça-feira na mostra competitiva, 'Vida de Menina', filme baseado no diário de Helena Morley.

Pseudônimo de Alice Dayrrel Caldeira Brant, Helena Morley, viveu em Diamantina no fim do século XIX, quando o Brasil instaurou a república e aboliu a escravidão. Ali, a era das minas de diamantes havia terminado e a cidade estava em franca decadência.

Adolescente, Morley escreveu durante dois anos um diário, no qual descreveu com grande naturalidade e lucidez surpreendente esta sociedade em crise, suas personagens, seu encanto, seus preconceitos e sua hipocrisia.

O livro 'Minha Vida de Menina' só foi publicado quando a escritora tinha mais de 60 anos e durante muito tempo foi uma referência da literatura nacional. "Roberto Freire disse que este livro era uma história natural do Brasil, era o único documento que existia que contava a vida cotidiana desta região e dessa época com uma grande ingenuidade e uma grande sinceridade", afirmou Helena Solberg.

Premiado nos Festivais de Gramado e do Rio, o filme de Solberg faz um retrato profundo de uma jovem que se debate entre aceitação e rebeldia com a própria adolescência e a sociedade em que vive. Trata-se de um retrato algumas vezes frustrado pela voz em off que reproduz os textos da escritora como uma narração reiterativa, sem dúvida em conseqüência da dificuldade de adaptação, embora a diretora prefira que não se use esta palavra para o filme.

"Acho que o que fiz não foi uma adaptação, mas uma reescritura pessoal do livro. Era um desafio, minha preocupação foi ser fiel ao espírito do diário", explicou Solberg. "Acho que Morley quis dizer nele que ser pobre não é uma coisa terrível, que ela foi feliz nessa época da sua vida, apesar da pobreza", acrescentou, afirmando que a "voz exterior é praticamente a única coisa que retomei dos diários palavra por palavra".

Ao ser perguntada por que o racismo e a escravidão recém-abolida neste período são tratados com certa leveza, sem mostrar conflitos, a diretora respondeu: "É o diário, é a visão de Morley. Ela mostra o que vê e o que sente e não parece ver contradições. É o seu mundo. O racismo está lá, mas eu não queria fazer uma apresentação militante, queria refletir este mundo tal como é, um documento de memória escrito dia a dia".

"Está a avó, que é uma espécie de tirana ilustrada, que trata os negros bem e os considera coisa suja, mas também parte da família, e com sua morte é toda uma época que termina. Está a amizade entre Helena e a menina negra. Está também seu professor, que é negro. Eu fiz pesquisas sobre este personagem, que era um mestiço, filho bastardo reconhecido pela família branca e que se tornou com o tempo o senador local", acrescentou.

"Era a época da abolição e a situação social dos negros era muito difícil, porque eram oficialmente livres, mas livres para que, para ir aonde? Não tinham nada ao ponto que muitos preferiram ficar com as famílias às quais haviam pertencido", explicou.




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