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Mito e cidadão universal, Pelé chega aos 70 anos
23/10/2010 | 07:49
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Quarta-feira, 20 de outubro de 2010, 7h30. Os professores de Educação Física Laércio e Walter se preparam para mais uma aula com os alunos do Ensino Fundamental 1 do Colégio Madre Alix, em São Paulo. Antes da corrida inicial, uma pergunta para os garotos e meninas de até 6 anos de idade. "Quem conhece o Pelé?" A resposta das crianças é rápida e decidida, como era característica do maior jogador de futebol de todos os tempos: "Eu, eu, eu".

Em 2007, na entrega do prêmio da Fifa ao Melhor Jogador do Mundo, em Zurique, Suíça, o brasileiro Kaká, o argentino Messi e o português Cristiano Ronaldo disputavam o primeiro lugar na eleição, mas quem chamou a atenção do seleto público foi Edson Arantes do Nascimento.

São dois exemplos da imortalidade de um personagem esportivo, que se transformou na maior marca pessoal que já existiu e que hoje completa 70 anos de vida. Sem chutar uma bola profissionalmente desde 1977, Pelé permanece com credibilidade, respeito e admiração por parte do público, o que o torna alvo predileto dos mais diversos tipos de produtos para os quais negocia quantias milionárias e assim liga sua imagem a comerciais para todos os tipos de mídias pelo mundo.

Estudo dos autores ingleses Des Dearlove e Stuart Crainer, especialistas em poder das grifes, diz que a marca Pelé poderia atingir a quantia de US$ 1 bilhão, superando os astros Michael Jordan, Tiger Woods e Muhammad Ali.

Levantamento recente da revista Dinheiro aponta que, para se explorar a marca Pelé nos próximos 20 anos, seriam necessários R$ 600 milhões, o que garantiria ao Rei do Futebol R$ 30 milhões anuais, o mesmo que Cristiano Ronaldo recebe para defender o Real Madrid.

O salário do jogador português é o maior do futebol mundial. Ibrahimovic, do Milan, Messi, do Barcelona, Samuel Eto'o, da Internazionale, e Kaká, do Real Madrid, na ordem, ficam atrás do eterno camisa dez do Santos e da Seleção Brasileira.

Mas o que faz Pelé ser diferente de outros grandes ídolos do futebol, que também já pararam e com o tempo perderam parte da aura que acumularam em suas carreiras? Muitos especialistas indicam que o maior golaço do Rei não foi nenhum dos 1.284 que estufaram as redes adversárias em duas décadas. Mas, sim, ter ido jogar nos Estados Unidos em 1975, para defender o Cosmos, de Nova York. Além dos salários de US$ 4,5 milhões por ano (excepcionais para a época) e a divulgação de um esporte com pouco interesse na terra do Tio Sam, Pelé teve a oportunidade de conviver com grandes investidores norte-americanos, que lhe abriram as portas para vantajosos contratos publicitários. Há tempos, Pelé sonha com a aposentadoria. Mas parece que essa disputa ele não vai vencer nunca.

 
Astro reúne todas as qualidades para um atleta
Uma pergunta eterna no meio esportivo é para se saber qual o melhor atleta em cada modalidade. No futebol, não é diferente. As discussões são eternas e jamais se chegará a um acordo. "Ninguém teve maior domínio de bola que Diego Maradona", apontam os argentinos. "O conhecimento tático de Johan Cruyff foi indiscutível", assinalam os holandeses. "Não existiu alguém que driblasse como Garrincha", atestam os botafoguenses. "Nenhum jogador teve a classe e categoria do francês Zidane", reverenciam os franceses.

Pois bem, cada grupo ressalta o que cada um de seus ídolos fez de melhor em sua carreira. Nessa briga de opiniões, os brasileiros, principalmente os torcedores do Santos, se sentem à vontade para destacar que o futebol de Pelé foi inigualável. Isso porque o eterno camisa dez realizou todos os fundamentos sempre benfeitos.

Pelé sabia driblar curto, carregar a bola em velocidade superior à de seus marcadores. Tocava e finalizava a gol com a mesma precisão e potência com ambas as pernas. Tinha total controle sobre ela e seu passe, na maioria das vezes, deixava seus companheiros na cara do goleiro adversário.

Sabia cabecear de olhos abertos para procurar o local mais longe do alcance dos goleiros. Tinha técnica para cobrar faltas e até se apresentava com totais condições para atuar no gol. Enfim, ele reuniu a habilidade para realizar todas as características que cada um dos gênios citados anteriormente conseguia fazer.

Além do talento e das conquistas, Pelé sempre soube valorizar suas aparições e cuidar de sua imagem. Vinculou seu nome a centenas de produtos, mas jamais se vendeu a bebidas alcoólicas ou cigarros.

Tal postura, sempre sorrindo, fez com que todos os presidentes dos Estados Unidos se encontrassem com o Rei de um esporte não muito apaixonado pelos norte-americanos. Os papas Paulo VI e João Paulo II o receberam no Vaticano. A rainha Elizabeth II chegou a quebrar o protocolo e pedir para que o maior craque de todos fosse atuar pelo seu time do coração, o Liverpool. Por tudo isso, pode-se discutir os melhores em cada fundamento, mas não há discussão quanto àquele que soube ser o melhor juntando-se todos eles.


História do Rei começou a ser escrita em Santo André

Foi em Santo André que a mais impressionante biografia do futebol começou a ser escrita. Era tarde do dia 7 de setembro de 1956, quando Pelé - na época Gasolina - estufou a rede do extinto Estádio Américo Guazelli, em amistoso do Santos contra o Corinthians da Vila Alzira. Era apenas o primeiro dos 1.091 gols que o craque fez pelo Peixe - no total foram 1.284 na carreira.

Com apenas 15 anos, Pelé estreava no time profissional do Santos e substituiu Del Vecchio aos 30 minutos do segundo tempo. Foram precisos seis minutos para que o Rei recebesse passe de Raimundinho e chutasse por baixo do goleiro Zaluar. Era o sexto gol do Santos na fácil goleada por 7 a 1.

O pouco tempo em campo foi suficiente para convencer o técnico Lula de que o franzino atacante tinha condições de se tornar titular do Santos. E assim foi. No ano seguinte, Pelé foi chamado pela primeira vez para a Seleção Brasileira.

Zaluar, a quem coube os méritos de sofrer o primeiro gol do Rei, faleceu em 1995 com a certeza que também entrou para história do futebol. (Anderson Fattori)


Dos gramados da Suécia à marca mundial
Ser um aluno exemplar na escola sempre valeu a nota 10 no boletim. No futebol, a camisa dez só se transformou no uniforme preferido dos craques a partir da Copa de 1958, na Suécia, quando o garoto Pelé, então com 17 anos, fez seis gols e comandou a Seleção Brasileira na sua primeira conquista mundial.

A partir daí, o apelido Pelé, depois de inúmeros títulos, partidas sensacionais e inesquecíveis por Santos e Seleção, virou sinônimo de sucesso. No futebol, nunca mais surgiu outro Pelé. Para muitos, nunca mais vai surgir. Mas todos os ramos de atividade fizeram questão de eleger o seu Pelé.

Washington Olivetto, para muitos o Pelé da Propaganda, afirmou em entrevista: "Pelé é o Pelé dos Pelés". Ou seja: foi por intermédio do maior jogador de futebol de todos os tempos que se criou um termo para se dizer que um sujeito é o melhor naquilo que faz.

Pelé surgiu quando o garoto Edson Arantes do Nascimento, aos 4 anos, jogava bola com seus amigos. Na época, ele atuava no gol - talento que só seria reconhecido anos depois, quando já atuava como atleta profissional - e gritava a cada defesa: "Segura Bilé, defende Bilé".

Homenagem ao goleiro do Vasco de São Lourenço (MG), time que seu pai defendia antes de ser contratado pelo Bauru Atlético Clube. Como os companheiros não entendiam quem era Bilé passaram a chamá-lo de Pelé, apelido que ele de início detestou.

Celeste e seu Dondinho, que deram ao filho o nome de Edson como uma homenagem ao inventor Thomas Edison (1847 a 1931), jamais imaginaram em 1940 que o garoto iria brilhar mundialmente. Mas seria pelo apelido de Pelé. (da AE)




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