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Sangue menstrual é fonte de células-tronco
Camilla Muniz
Ciência Hoje/RJ
11/10/2010 | 07:58
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Um material biológico desprezado vem se mostrando fonte importante de células-tronco para pesquisas. Grupo de cientistas do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), encontrou no sangue menstrual células com capacidade de diferenciação. A esperança é que elas possam, no futuro, ser utilizadas no tratamento de diversas doenças.

"Por uma questão cultural, o sangue da menstruação nunca foi visto pelos pesquisadores como fonte de células-tronco", observa a professora Regina Coeli dos Santos Goldenberg, coordenadora da equipe.

Nessa área, vem sendo estudado o potencial das células-tronco de diferentes fontes e existe grande interesse naquelas consideradas descartáveis - como cordões umbilicais e placentas -, cuja coleta seja possível por métodos não invasivos. Apesar de atender esses quesitos e ainda estar disponível em abundância, só recentemente o sangue menstrual passou a ser estudado como fonte alternativa de células-tronco.

As células encontradas pelos pesquisadores da UFRJ são do tipo mesenquimal, ou seja, células adultas com capacidade de diferenciação em vários tecidos e que podem ser facilmente multiplicadas em cultura.
Segundo Goldenberg, dentre as vantagens das células-tronco mesenquimais sobre as embrionárias destaca-se a de apresentarem espécie de privilégio imunológico. Em outras palavras, isso significa que elas não seriam rejeitadas quando injetadas nos pacientes.

"A maior parte das pesquisas com células-tronco utiliza aquelas retiradas da medula óssea, que contêm células-tronco hematopoiéticas e um pequeno percentual de células-tronco mesenquimais. Essas células se mostram eficientes no tratamento de doenças hematológicas, como a leucemia, mas apresentaram resultados nulos ou transitórios quando aplicadas em outros tipos de doenças", explica.

Os cientistas esperam que as células-tronco provenientes do sangue menstrual possam ser utilizadas com sucesso nas pesquisas para o tratamento de doenças não hematológicas, como as cardiovasculares, as hepáticas e as neurodegenerativas.

CÉLULAS ADULTAS
A coleta do material é feita como os exames de urina. As voluntárias recebem um frasco coletor com anticoagulante e antibiótico, onde devem depositar o sangue eliminado no dia de maior fluxo menstrual.

A higiene íntima é fundamental para evitar o risco de contaminação. No laboratório, foram desenvolvidas duas linhas de pesquisa. Depois de isolar e cultivar as células-tronco mesenquimais, a equipe avaliou seu potencial como camada alimentadora - fonte para o crescimento in vitro de células-tronco embrionárias no estado indiferenciado, antes de serem utilizadas no tratamento de doenças. O estudo gerou resultados bastante satisfatórios, principalmente porque o êxito do método representa uma alternativa ao uso de fibroblastos de camundongos como camada alimentadora, o que não é permitido na clínica médica devido à contaminação do material humano com células de origem animal.

Na segunda linha de pesquisa, as células-tronco do sangue menstrual, que são adultas, foram reprogramadas para voltarem ao estágio embrionário por meio de fatores de transcrição específicos, responsáveis pela reprogramação nuclear. Esse procedimento é importante porque as células embrionárias têm máxima capacidade de diferenciação.

"Além disso, há a possibilidade de se aplicar as células reprogramadas na própria paciente que doou o material, o que elimina as chances de rejeição", ressalta Goldenberg. "O método também nos dá a oportunidade de obter células-tronco altamente diferenciáveis de forma rápida e eficiente sem passar pela questão embrionária, que ainda gera tantas polêmicas."

Nas próximas etapas do estudo, o grupo pretende utilizar as células-tronco recém-descobertas para repovoar órgãos sem células. A ideia é retirar as células do fígado de um camundongo, depois cultivar células-tronco na matriz do fígado, e em seguida analisar se estas podem se diferenciar para repovoá-lo. Para Goldenberg, essa fase será fundamental para que a equipe possa examinar a viabilidade de se fazer órgãos para transplantes no futuro.

"Nosso objetivo é beneficiar a população a partir do emprego dessas células principalmente para tratamento de doenças cardíacas e hepáticas", destaca a pesquisadora.




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