Economia Titulo Crise
Três em dez contratos são desfeitos em 2016

Conforme a Acigabc, crise e aumento do
desemprego aceleram devolução de imóveis

Gabriel Russini
Especial para o Diário
09/02/2017 | 07:30
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Nario Barbosa/DGABC


Em 2016, o número de distratos atingiu 30% das compras de imóveis novos na região. Significa dizer que a cada dez pessoas que adquiram apartamento na planta em 2015, no ano seguinte o devolveram às construtoras. O distrato é um direito do comprador e pode ser exercido a qualquer momento, com a devida restituição da maior parte do valor pago até o momento da desistência, que pela regra é de 90% do montante.

O dado é da Acigabc (Associação das Construtoras, Imobiliárias e Administradoras do Grande ABC).

“A restrição ao crédito foi impulsionada por isso. O desemprego desencadeou grande inadimplência e, em um momento complicado, o primeiro bem que a pessoa pretende abrir a mão é o apartamento por outro de menor preço”, explica o presidente da Acigabc, Marcos Vinícius Santaguita. “Na região, os distratos geralmente oscilam entre 2% e 5% das compras, já 30% é muito alto”, complementa.

O cenário de crises política e econômica também impactou o volume de negócios selados em 2016, que caiu pela metade. Foi o terceiro ano consecutivo em que os números de unidades vendidas e lançadas no Grande ABC (Rio Grande da Serra e Ribeirão Pires não são contabilizadas devido à grande área ocupada por reservas ambientais e regiões de manancial) recuaram.

As construtoras comercializaram no ano passado 2.962 apartamentos, 40,03% menos do que em 2015, quando foram vendidos 4.939. Para se ter uma ideia do ritmo de queda das vendas nos últimos anos, de 2013 para cá o tombo foi de 70%. À época foram comercializadas 10.054 imóveis, enquanto que em 2014, apenas 6.680 unidades foram vendidas. “A diminuição das vendas é reflexo direto do momento difícil pelo qual o País está passando”, afirma Santaguita, ao mencionar o adiamento das compras.

Consequência dessa desaceleração, o total de lançamentos também recuou em 2016. No acumulado de janeiro a dezembro foram lançadas 2.242 unidades, redução de 44,5% em comparação a 2015, que contou com o anúncio de 4.042 apartamentos.

Do total de lançamentos, a maioria (81,6%), equivalente a 1.829 unidades, é de dois dormitórios, e 413 são de três quartos (18,4%). As construtoras não apostaram em apartamentos de um nem de quatro dormitórios no ano passado. “Nossa expectativa é zerar o estoque até o final deste ano, ou pelo menos chegar próximo a isso, já que ainda há muitas unidades vazias”, comenta Santaguita – leia mais abaixo.

EM SÃO CAETANO - Chama atenção o fato de São Caetano ter sido o único município que não apresentou novidades no ano passado. Isso se deve ao Plano Diretor Estratégico, que em 2015 instituiu limites para a verticalização da cidade.

A lei, aprovada na gestão de Paulo Pinheiro (PMDB), estipula diretrizes para os próximos dez anos, em que o tamanho dos prédios não pode ultrapassar a maior construção do município, que possui 22 andares. De acordo com Santaguita, o único bairro da cidade que pode conter lançamentos é o Cerâmica. “Os últimos lançamentos da cidade foram em 2015. Acharam que mais construções na cidade teriam impacto negativo”, contextualiza Santaguita.


Mais de 40% das vendas foram em S. Bernardo

Dentre as cidades do Grande ABC que mais venderam e apresentaram lançamentos em 2016, São Bernardo liderou o ranking, com a comercialização de 1.229 unidades, ou 41,5% do total.

Em segundo lugar está Santo André, com 1.040 apartamentos comercializados, ou 35,1% . Na sequência vem Diadema, com 418 unidades comercializadas, equivalente a 14,1% da região.

São Caetano, único município que não lançou no ano passado, registrou 158 vendas, enquanto que Mauá comercializou 117 apartamentos.

Para Marcos Vinícius Santaguita, presidente da Acigabc, a queda no estoque não é exatamente algo positivo. “Isso porque a baixa se trata da ocupação de imóveis que já estavam vazios há muito tempo.”

O estoque também apresentou queda no ano passado, passando de 1.849 para 1.472 unidades, redução de 20,4%. Trata-se da quarta baixa consecutiva. Em 31 de dezembro de 2013, o estoque contava com 4.202 apartamentos. Em 2014, havia 2.760 unidades.

EVENTO - Visando acelerar a desova dos imóveis prontos, a Acigabc, em parceria com 20 incorporadoras da região, vai realizar salão imobiliário entre os dias 18 e 19 de março.

O evento vai acontecer no Extra Anchieta, situado na Rua García Lorca, 301, Vila Pauliceia, em São Bernardo. “A nossa expectativa é vender pelo menos 20%, ou cerca de 400 unidades das 2.000 que serão oferecidas”, explica Santaguita. A entidade estima que 20 mil pessoas deverão comparecer nos dois dias. A Caixa Econômica Federal também estará presente no evento.

EXPECTATIVA - Para este ano, a associação projeta bons resultados, mas sem especificar de quanto e como será esse crescimento. “Acredito que teremos mais lançamentos, mas o foco principal é vender essas unidades que estão encalhadas há muito tempo, acho que podemos fechar 2017 com esses locais ocupados, para em 2018 focar apenas em novos lançamentos”, afirma Santaguita.

A Acigabc também ressalta que a melhora no setor depende de série de fatores, como a retomada do crescimento da economia e da geração de empregos, e no alívio da crise política que o País enfrenta. Entretanto, se essas situações não se resolverem logo, dificilmente o mercado imobiliário vai voltar a crescer neste ano. 




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