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Carlito se divide em três nacionalidades
Anderson Fattori
Do Diário do Grande ABC
03/10/2011 | 07:53
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Claudinei Plaza/DGABC


Carlito, jogador de handebol da Metodista/São Bernardo, tem o coração dividido por três nacionalidades. Nascido em Cuba, ele se rebelou, buscou refúgio na República Dominicana e hoje mora no Brasil. A situação é inusitada, mas ele encara com naturalidade. Sem constrangimento, partiu rumo ao México onde disputa em outubro com os dominicanos o Pan-Americano de Guadalajara.

Com sotaque caribenho, Carlito explica a confusa história. "Nasci em Havana CF51(capital de Cuba). Foi lá que me desenvolvi e comecei no handebol. Fui chamado para a seleção aos 14 anos e estive no time por nove temporadas. Depois, comecei a sonhar com futuro melhor e os cubanos me impediam de realizá-los. Então tomei a decisão de abandonar Cuba e busquei refúgio na República Dominicana. Fiquei lá por dois anos antes de vir para o Brasil, onde cheguei em 2006."

Mas o que leva um cidadão decidir abandonar tudo e recomeçar a vida longe da família? "Cuba permite que você avance até certo ponto. Depois não tem para onde crescer. Tinha o sonho de viver do handebol e para isso precisaria sair de Cuba, já que lá os salários dos jogadores lá são pagos pelo governo, diferente do Brasil, onde recebemos dos clubes. O lado financeiro pesou", assume.

Há cinco anos morando e jogando em São Bernardo, Carlito assume que sente saudades dos parentes que deixou em Cuba. "Minha mãe me visitou agora e agora planejo retornar à Cuba para matar saudade. Como sai legalmente do país posso entrar quando quiser, mas ainda não tive chance de fazer isso", comenta, negando medo de sofrer represálias.

Sobre o Pan-Americano, Carlito sabe que a República Dominicana não tem chances contra Brasil e Argentina, as potências do continente. "A meta é conseguir o bronze que estaria de bom tamanho", avalia o jogador, que se sente à vontade com os dominicanos. "Eles me respeitam e só tenho amigos na seleção. Gosto de jogar com eles e me esforço para vencer as partidas, pois foi um país que me acolheu de braços abertos", completa.

Questionado se ficaria balançado com a possibilidade de defender o Brasil, Carlito foi sincero. "Infelizmente não dá mais, porque hoje sou dominicano. Mas amo o Brasil, é um país parecido com Cuba, com lindas praias e povo hospitaleiro. Por isso me acostumei bem aqui", finaliza, mais uma vez misturando os três países que mexem com seu coração.

CUBANA NO VÔLEI

Bem mais retraída que o compatriota, Nancy Carrillo tenta se adaptar a nova vida em São Bernardo. Contratada para reforçar a equipe do BMG, a jogadora é de poucas palavras e evita polêmica.

"Fui bem recebi pela equipe e estou me sentindo bem. Gosto muito de Cuba, mas percebi que era o momento de mudar e me aconselharam recomeçar pelo Brasil", explica jogadora de 25 anos, que usa a ponteira Thais, que tem passagem pela Espanha, como interprete.

Pela seleção, Carrillo acumula vitória histórica contra o Brasil na final no Pan-Americano de 2007. "Para mim, isso já é passado", despista com largo sorriso no rosto.

Como pediu demissão da seleção cubana, Carrillo aguarda documentação para estrear. Segundo o técnico Zé Alexandre, a previsão é que ela esteja em quadra em um mês.

 

Moniki supera lesão e estará no Pan

 

Quem vê a convocação da Seleção Brasileira de handebol que vai ao Pan-Americano, no México, se surpreende com a inclusão de Moniki, da Metodista, na lista. Não pela qualidade técnica da jogadora, mas sim pela sua trajetória meteórica. Sergipana, ela veio para São Bernardo em 2008, aos 18 anos. Em poucos meses garantiu lugar na equipe titular, mas lesão no ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo pôs tudo a perder. Ficou dois anos parada e agora, seis meses após voltar as quadras ganhou chance de recomeço.

"Não foi nada fácil. Sozinha, tinha acabado de chegar a São Bernardo e me contundi sério. Minha mãe pediu para eu desistir do handebol e tentar outra carreira. Realmente pensei em parar, mas consegui tirar forças para superar a lesão e voltar a jogar. Agora fui premiada com essa convocação. Não esperava de forma alguma estar na lista final do Pan", comemora a jogadora.

Moniki e Jéssica, do Blumenau, são as únicas atletas que jogam no Brasil e que estão na lista. As outras 13 atletas convocadas atuam em grandes clubes da Europa, principalmente no Hypo, da Áustria, que cederá oito jogadoras.

Atuar no exterior, aliás, é um sonho de Moniki. "Sei que isso é consequência do trabalho feito em São Bernardo. Todo mundo sonha em atuar nas grandes equipes e não sou diferente. Na Europa o handebol é bem diferente do que é praticado no Brasil. Parece outro esporte, muito mais dinâmico e veloz", compara a armadora. "Vejo nos treinos com as brasileiras que atuam na Europa. Tento absorver tudo o que elas nos passam", completa.

Apesar de já ser uma realidade, com 21 anos Moniki é nome certo para os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. "O handebol feminino está evoluindo muito. Temos boas chances do Campeonato Mundial que será disputado em dezembro, no Brasil (São Bernardo será uma das quatro sedes da competição). Não sei quais são os planos da comissão técnica, só sei que quero aproveitar ao máximo essa convocação para o Pan-Americano e deixar as coisas acontecerem naturalmente", finaliza.

 

 

 




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