Tite não esconde a satisfação de ter iniciado a sua trajetória na seleção brasileira com seis vitórias. Para ele, era fundamental começar bem e ganhar tranquilidade para a sequência do trabalho. Agora, com a classificação para a Copa do Mundo na Rússia bem encaminhada, o treinador elegeu alguns desafios que o Brasil terá de vencer até 2018: enfrentar seleções da Europa e jogar em cidades onde a torcida historicamente é mais exigente.
Qual foi sua reação ao ser convidado e a primeira atitude?
Eu não esperava o convite, não estava nos meus planos. Pensei: "que loucura, que maluquice". Para quebrar o gelo, liguei para todos os jogadores convocados para dar parabéns e dizer que eles estavam na seleção porque mereciam.
Mas você pegou a seleção na 6.ª colocação das Eliminatórias...
As etapas anteriores foram de reconstrução depois da Copa do Mundo. Era um momento muito delicado para qualquer profissional. Peguei o time em uma segunda etapa e procurei potencializar desde o primeiro jogo. Não dava para planejar a segunda partida. Nossa necessidade era jogar bem e pontuar.
Você conversou com Dunga depois que assumiu a seleção?
Não conversei com o Dunga por respeito a ele. As pessoas têm de ter cuidado para não colocar os outros em saia-justa. Eu me coloquei no lugar dele. Ele queria ter terminado o trabalho dele na seleção. Ele está com o sentimento aflorado. Optei por falar com outras pessoas para me municiar de informações da seleção.
Ninguém sabia como o Paulinho estava lá na China. Por que você resolveu apostar nele?
O Paulinho tem um passado de campeão pela seleção. Foi campeão do mundo comigo no Corinthians. Na China, ele é um dos principais atletas. E isso não foi ninguém que nos falou, nós fomos ver. Acompanhamos o nível de força, momento físico e condicionamento técnico dele. Todos os atletas convocados tiveram um acompanhamento in loco.
Outra aposta sua é o Gabriel Jesus. Por que escolher um garoto de 19 anos para usar a camisa 9 da seleção?
Ele é de verdade, em termos técnicos e como pessoa. Ele tem um berço muito forte, uma transparência natural de admitir seus erros. Mas sei também que precisa corrigir algumas coisas. Ele não precisa cair tanto. Como tem uma força de sustentação impressionante, não precisa ir para o chão em qualquer esbarrão.
Em quem você votou no prêmio de melhor jogador do mundo da Fifa?
O Messi é o melhor do mundo, mas na temporada o melhor é Cristiano Ronaldo. Pelas conquistas, a temporada do Cristiano foi melhor, o segundo, o Neymar e o terceiro, Griezmann. Deixei o Messi de fora porque ele se machucou muito. O Cristiano é direto e contundente, tem fascínio pelo gol. Messi é lúdico, criativo.
O Brasil jogará no Itaquerão?
O Edu (Gaspar, coordenador técnico da seleção) vai analisar essa possibilidade, mas temos de saber jogar nos centros mais exigentes. Faz parte do amadurecimento do time. Para mim, tem de jogar em São Paulo, Rio, Porto Alegre e Paraná. Agora, em relação ao estádio, passo a bola para o Edu.
O que falta para você deixar a seleção pronta?
Eu sou muito rigoroso, chato e observador. Quero situações diferentes e novas porque estamos em um processo de amadurecimento. Não queria que a Copa fosse agora. Quero daqui a dois anos para termos um tempo de construção. Precisamos, por exemplo, sair perdendo um jogo. Eu quero ver como a equipe vai reagir emocionalmente numa derrota porque ela vai ser inevitável. Quero medir reações, comportamentos, isso é no dia a dia.
O Brasil enfrentará seleções da Europa em 2017?
Quero os amistosos com seleções do primeiro escalação do futebol mundial. Não quero adversário de nível inferior. Quero enfrentar França, Alemanha, Portugal, Itália, Espanha e seleções dentro desse porte.
Relatório da CPI do Futebol pede o indiciamento de vários dirigentes, incluindo o presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, por estelionato e lavagem de dinheiro. Como você viu esse pedido?
A CBF é o local onde eu trabalho, mas a seleção brasileira é um segmento desse local. Quando eu fui convidado pela direção da CBF foi para ter autonomia de trabalho em relação à seleção. A minha responsabilidade é a seleção. Meu trabalho é dentro de campo, na área específica do futebol. Claro que há um atrelamento com as outras áreas, mas o trabalho dado pelo Marco Polo a mim foi, repito, de autonomia e tranquilidade em relação à seleção brasileira. As outras situações correm paralelas e o tempo vai mostrar quem tem responsabilidade e quem não tem.
O Código de Ética da CBF diz que parentes de funcionários não podem ser contratados. O seu filho Matheus, no entanto, trabalha na comissão técnica da seleção. Como você responde a isso?
As palavras do próprio Marco Polo em relação à seleção foram de que a escolha da comissão técnica era exclusivamente minha. O Matheus está habilitado para trabalhar na seleção. Ele se preparou, tem quatro anos de estudos na universidade, um ano de Corinthians, fez estágio na Espanha, Caxias do Sul e Flamengo. Sou um profissional com responsabilidade e tenho credibilidade para saber diferenciar competência profissional de laço familiar.
Como você analisa o atual momento do Corinthians?
Eu me sinto responsável pela instabilidade que o Corinthians teve esse ano. Não falo isso para ser simpático. Falo isso para mim mesmo. Tínhamos todo um planejamento de trabalho depois que o time foi desmontado pelo fator China. Conseguimos alguns resultados importantes, mas a seleção foi uma oportunidade ímpar e fui um pouco egoísta.
Qual é a sua opinião sobre a contratação de Rogério Ceni como técnico do São Paulo?
Agora ele passou a ser vidraça. Foi uma atitude corajosa para um ídolo como ele. Ele não se sentou nos louros de ídolo e foi buscar aperfeiçoamento. Isso é fundamental, mas não tem lastro de experiência com outros trabalhos como técnico e já entra no olho do furação.
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