Setecidades Titulo Expedição Mariana
Rio Doce tem nove pontos com resultados péssimos

Análise da água, um ano após rompimento de barragem, foi feita por equipe da USCS que integrou expedição

Yara Ferraz
do Diário do Grande ABC
09/11/2016 | 07:07
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Celso Luiz/DGABC


Do total de 17 pontos em 650 quilômetros de extensão da Bacia do Rio Doce, onde foram recolhidas amostras, na região de Mariana, em Minas Gerais, nove foram classificados como péssimos. Os resultados são de um ano após a tragédia causada pelo rompimento da barragem da mineradora Samarco. A análise foi feita pela equipe de laboratório da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), que também indicou quatro amostras como ruins, três como regulares e uma como ótima.

A responsável pelos resultados é a especialista em recursos hídricos e professora da universidade Marta Ângela Marcondes, que também acompanhou a expedição. A ação foi a segunda realizada pela ONG (Organização Não Governamental) SOS Mata Atlântica.

Inicialmente, a expedição deveria colher 18 pontos, como aconteceu em 2015, porém um deles estava soterrado. No ano passado, 16 apresentaram o IQA (Índice de Qualidade da Água) péssimo e dois obtiveram índice regular.

Conforme Marta, apesar de o resultado ser melhor do que no ano passado, os números ainda estão longe do ideal. “Antes da tragédia, o Rio Doce era classificado como rio de classe 2 (água indicada para consumo humano após tratamento convencional, pesca, recreação, entre outros), sendo que nós usamos esse parâmetro para classificar as amostragens. O resultado está melhor, mas está muito aquém do que seria necessário para um rio nessa classificação”, disse.

Entre os principais problemas encontrados nas amostras de água está a presença de novas bactérias. Além da Escherichia coli, que já estava presente nas amostras do ano passado, se destacam a Pseudomonas, que faz parte do intestino humano, e a Salmonella, presente em água e alimentos contaminados e que pode causar náuseas e vômitos.

“Essas bactérias não têm relação direta com a lama de rejeitos, mas indiretamente sim. Isso porque elas foram trazidas de esgoto humano, provavelmente de estações de tratamento e fossas, que foram levadas com a força da água”, classificou a professora.

Entre os principais prejudicados com isso estão as pessoas que vivem na margem do rio e que podem estar sujeitas a diversos problemas de saúde. “Todas elas são prejudiciais. Imagina se esse rio encher e essa água entrar na casa dessas pessoas. A Pseudomonas encontrada é resistente a metais, e com o material genético das bactérias na água elas podem se reproduzir e sofrer mutações, se tornando resistentes a antibióticos, por exemplo”, explicou.

Outro nível preocupante nas amostras é a quantidade de sólidos dissolvidos, que incluem grande quantidade de cobre e manganês. “Elas já estavam acima do limite e agora estão presentes em quantidade dez vezes maior. O manganês é altamente perigoso, pois, consumido em grande quantidade, pode levar à impotência. Como no local vivem animais ameaçados em extinção, como o lobo-guará, isso pode comprometer o futuro da espécie”, concluiu.

Segundo ela, o intuito da expedição é a mobilização do poder público para que o rio seja salvo. “É um apelo para que os municípios auxiliem na recuperação do rio e de toda a vegetação ao redor. Os responsáveis por essa tragédia precisam investir na recuperação de todo o leito do rio e também em pesquisa de monitoramento para essa área.”
 




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