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'Morte em Veneza' reestréia em SP
24/12/1999 | 14:11
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A metáfora é exemplar: como uma nova imagem que substitui a antiga e paira diante do espectador, o decadente Gustav Aschenbach, de Morte em Veneza, está de volta neste sábado, no CineSesc, em Sao Paulo, em cópia nova e maquiado para o milênio.

Morte em Veneza parece um filme sobre marcianos. Luchino Visconti fala de uma estranha espécie que sobrevive no inconsciente moderno, mas que pertence a outro mundo - como nossos antepassados, que acreditavam na vida, na arte e na ética.

O filme é baseado no livro homônimo de Thomas Mann, e começa quando um velho músico - vivido por Dirk Bogarde, ator inglês que morreu em maio deste ano - sai de sua casa e caminha involuntariamente para o cemitério. O encontro com um tipo esquisito no portao da casa dos mortos desperta nele um incontido desejo de viajar.

Depois, ele encontra-se com o barqueiro do inferno nessa cidade ameaçada pela peste, negada pelas autoridades sanitárias de Veneza para nao afastar os turistas, mas sentida a cada passagem do vento - a peste vai levar Aschenbach de volta ao cemitério. Antes, no entanto, Visconti reduzirá o personagem a uma larva, seduzido por um garoto loiro que representa o ideal de beleza perfeita, aquela mesma entidade que os sábios gregos perseguiam com a promessa da destruiçao certa.

Tadzio (Bjorn Andresen) é essa ameaça dionisíaca ao compositor, que passa férias no balneário do Lido, em Veneza. No adolescente polonês, ele projeta o ideal do sublime, que discute exaustivamente com o melhor amigo. Para o músico, a arte é um dom divino, espiritual. Para o amigo, apenas um pecaminoso clarao dos dons naturais.

Ao descobrir a paixao pelo jovem Tadzio, Aschenbach nao se deixa arrastar apenas por um sentimento que decreta a morte social dele, antes da física. Visconti identifica na máscara mortuária feita em vida - a maquiagem que escorre do rosto suado de Aschenbach - o fim da arte e da beleza.




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