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Cobrança dupla fere Constituiçao, diz jurista
Alexssander Soares
e Karen Camacho
Da Redaçao
03/01/1999 | 19:40
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A taxa de drenagem de até R$ 2, criada pelo Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental) de Santo André para todo imóvel que tiver área impermeabilizada (que nao permite absorçao das águas das chuvas), foi considerada inconstitucional por juristas entrevistados neste domingo pelo Diário.

De acordo com o presidente da Associaçao Brasileira de Defesa do Contribuinte, Roberto Correia Gomes Caldas, especialista em Direito Público, a cobrança da taxa de drenagem, em separado, constitui-se em uma tributaçao inconstitucional, uma vez que o serviço nao pode ser cobrado de forma individualizada. "Nao é possível tributar por taxas, separadamente, um benefício de caráter genérico", explicou Caldas.

Além da inconstitucionalidade na cobrança em separado, o advogado também alegou que a autarquia nao pode criar o tributo taxa por meio de um decreto, mas somente por lei. "Essa cobrança também pode ser considerada como uma majoraçao indireta de imposto, vedada pelo Código Tributário Nacional", alegou.

O advogado Adauto Reggiane, de Sao Caetano, entende como bitributaçao a criaçao da taxa, pois o custeio destes serviços públicos já está destinado no carnê do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano). "Os munícipes já custeiam esses serviços pagando o IPTU. Além disso, nenhuma autarquia pode criar, por decreto, uma nova taxa pública, sem autorizaçao do Legislativo", ressaltou Reggiane.

Na opiniao dos tributaristas, a intençao do Semasa em instituir a cobrança da taxa poderá resultar em açoes diretas de inconstitucionalidade, impetradas por qualquer contribuinte que se sentir prejudicado. "Essa taxa é um exemplo clássico de imoralidade administrativa. Pois os munícipes acabam desistindo de mover uma açao pelo valor ínfimo da taxa", ressaltou Caldas.

Segundo Reggiane, a cobrança também poderá ser averiguada pelo Ministério Público, que por meio de um mandado de segurança poderá suspender o pagamento.

Para o vereador oposicionista Luiz Zacarias (PTB), a administraçao já tinha o objetivo de criar a taxa quando transferiu para o Semasa a responsabilidade do serviço de drenagem. "Aconteceria o mesmo com a taxa de limpeza pública, se a Câmara tivesse aprovado o projeto de transferência no final do ano passado. Eles poderiam nao aumentar ou criar taxas este ano, mas poderiam fazer no próximo", disse.

O vereador afirmou que vai consultar especialistas em tributaçao e direito público sobre as possibilidades de impedir a cobrança.

Joaquim dos Santos, também do PTB, classificou como "abuso" a criaçao da taxa de drenagem e o aumento da tarifa de água. Ele disse que vai convocar seu partido, na tentativa de mobilizar a populaçao. "Vamos distribuir panfletos para a populaçao para denunciar esses aumentos absurdos", disse Joaquim.

O petebista ressaltou ainda que a cobrança da água é bimestral e retroativa. "A leitura acontece no próximo dia 12, ou seja, a populaçao já vai pagar aumento sobre o que foi gasto em novembro e dezembro do ano passado", lembrou Joaquim.

Para o parlamentar, a Prefeitura descobriu que o "mapa da mina" fica no Semasa. "Todos os serviços de água, drenagem e canalizaçao de córregos foram transferidos para o Semasa, que se transformou no grande banco da Prefeitura. A autarquia acaba tendo mais força", disse Joaquim. "Nao é possível. Alguém tem de fazer alguma coisa", irritou-se.

O vereador petista Antonio Leite disse que a justificativa para o aumento que o Semasa havia dado para os vereadores da bancada era o repasse, ao consumidor de Santo André, do aumento promovido pela Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de Sao Paulo) no preço da água bruta que é vendida ao município.  "Qualquer outro aumento é uma precipitaçao do Semasa. O aumento deveria ser proporcional ao repasse", disse Leite.

Para o vereador, aumentos como este e a criaçao de outras taxas deveriam ter sido mais estudados pela autarquia. Depois do anúncio do aumento, Leite acredita que será ainda mais difícil aprovar o projeto do Executivo que propoe a transferência dos serviços de limpeza para o Semasa. O projeto foi rejeitado na última sessao de 1998.




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