Assim que começaram a sentir o calor do fogo e ver a fumaça preta invadir os barracos, os moradores da favela Naval, em Diadema, trataram de retirar de dentro das moradias os seus pertences. Em pouco tempo, a entrada da comunidade se encheu de móveis, eletrodomésticos e roupas. E ficou difícil separar o que era de uma família ou de outra.

Assistindo a menos de dez metros o fogo terminar com o pouco que tinha dentro de seu barraco, a dona de casa Rita Azevedo, 71 anos, lamentou a falta de tempo para salvar mais objetos. "Quando eu saí de casa já tinha gente entrando e gritando para eu pegar minhas coisas. Tinha duas camas novinhas, mas não consegui salvar", afirmou Rita, que trabalha vendendo churrasquinhos na rua.

Os trabalhos de retirada da mobília de dentro dos barracos - e a posterior separação dos materiais - foram realizados em mutirão pela comunidade, que auxiliou os bombeiros jogando água em baldes nas chamas. A estudante Vanessa Rubi,18, contou que já a é segunda vez que enfrenta incêndio na Naval. "Dessa vez o fogo apareceu muito rápido, e a única coisa que eu salvei foram os documentos e um pouco de roupa."

A Prefeitura de Diadema informou que todas as cerca de 50 famílias que perderam suas casas serão beneficiadas com o auxílio-aluguel, que varia de R$ 300 a R$ 350 mensais. Os moradores que não conseguirem abrigo na casa de familiares e amigos poderão se transferir, temporariamente, para um ginásio esportivo.

IPT orienta comunidades quanto à prevenção ao fogo

Barracos de madeira, residências muito próximas e rede de energia elétrica precária propiciam ocorrências como a registrada ontem na Naval. Esses são alguns dos fatores apontados pelo pesquisador de Segurança contra Incêndio do IPT (Instituto de Pesquisa Tecnológicas) de São Paulo, José Carlos Tomina, para que incêndios em favelas sejam tão comuns.

"As causas são as mais simples, mas o grande problema é que o local é de alto risco", diz o especialista, explicando que até uma vela pode gerar chamas de grandes proporções dentro de um barraco.

Além disso, Tomina, que também é engenheiro civil, explica que a falta de alguns cuidados no dia a dia pode provocar catástrofes. "Pequenos descuidos, como deixar a panela no fogo, coisas consideradas sem importância geram grandes problemas."

Em 2003, o IPT criou o Programa de Segurança Contra Incêndio em Favelas, para capacitar moradores das comunidades em combate ao fogo e em primeiros socorros, até que os bombeiros cheguem. "É feito treinamento com os moradores interessados, que ainda recebem extintores e roupas apropriadas. Já combatemos 100 incêndios nos cinco locais de atuação", explicou. As prefeituras que tiverem interesse de adotar o programa podem entrar em contato com instituto.

A favela Naval ficou conhecida nacionalmente em 1997, após policiais militares agredirem moradores.