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CD traz o melhor da banda britânica The Clash
Cláudio Luis de Souza
Da Redaçao
25/12/1999 | 17:20
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Os rumores sobre uma possível reuniao do The Clash sempre soaram mais como expressoes do desejo dos fas da banda, oficialmente dissolvida em 1986, do que como algo realmente plausível. Na verdade, o quarteto, que mudou a cara do pop britânico ao oferecer a proposiçao de que uma banda oriunda do punk rock podia ter uma carreira sólida, inclusive interagindo com outros gêneros (como o reggae e o ska, além do pop puro), nunca acenou seriamente com essa possibilidade - pelo contrário, pulverizou-se em bandas de sucesso mediano (como o Big Audio Dynamite do guitarrista Mick Jones).

Esse quadro pode mudar. Jones, Joe Strummer (guitarra) e Paul Simonon (baixo) se reuniram em 1998 e passaram a admitir a hipótese de tocar juntos novamente - o baterista poderia ser Terry Chimes ou Topper Headon, que foram membros oficiais do Clash em diferentes períodos. Mas parece que foi feita uma opçao por um passo cauteloso antes desse suposto retorno: os músicos resolveram resgatar gravaçoes de shows do Clash feitas entre 1978 e 1982 - a fase de ouro do grupo - e lançar um disco e um vídeo (de nome Westway to the World). O CD acaba de chegar às lojas brasileiras em ediçao nacional: é From Here to Eternity, e entra para a história do rock (como, aliás, sugere seu nada modesto título) como o primeiro álbum ao vivo do Clash.

Repassando rapidamente, o grupo foi um dos pioneiros da cena punk britânica, ao lado dos Sex Pistols. Diferentemente da turma de John Lydon e Sid Vicious, porém, o Clash tinha consistência musical (leia-se, seus músicos sabiam tocar razoavelmente) e conseguia controlar seus problemas com drogas e abusos diversos. Também conseguiu sucesso radiofônico, entrou no mercado dos Estados Unidos (onde até hoje gera filhotes, como o Rancid) e sempre evitou ser identificado como algo folclórico, provinciano ou underground demais, problema que afetou bandas na linha do UK Subs.

Prova parcial disso sao os endereços dos shows que cederam as 17 faixas que compoem From Here to Eternity. Há apresentaçoes em Nova York, Boston, Londres e Manchester - mas os roteiros das turnês do Clash, especialmente após o sucesso de cançoes como Train in Vain e a versao de I Fought the Law, incluíam passagens por Canadá, Hong Kong, Japao, Nova Zelândia e Tailândia.

Voltando ao disco: o que se ouve no CD sao registros de uma das bandas mais energéticas já vistas nos palcos roqueiros de todo o mundo. Quase todas as faixas pedem para que o corpo do ouvinte balance (cada um que escolha como dançar). Nao há nada de brilhante na instrumentaçao, mas o Clash tinha um inegável jeito para melodias e bons refroes.

Começando pelo que se conhece melhor. Should I Stay or Should I Go, gravada em 1982, nove anos antes de ser relançada num comercial de jeans (e de chegar, finalmente, ao topo das paradas no Reino Unido), é demonstrativa desse poder de síntese musical acima referido; e London Calling, registrada no mesmo show, se reafirma como uma das grandes cançoes do rock em qualquer época.

Os punks de Londres sempre criticaram a cidade - o que, para quem mora na Grande Sao Paulo, sempre pode soar como nhenhenhém. Mas o Clash preferia escrever crônicas (contestatórias, claro) sobre a capital da Inglaterra, e estas funcionam hoje como polaróides, algumas amareladas, mas sempre com estatuto de fetiche para quem gosta de música jovem: Guns of Brixton (sobre violência policial), (White Man) In Hammersmith Palais (sobre racismo) e o par London's Burning e a já citada London Calling sao bons exemplos disso.

Para rodar numa festa, Train in Vain e Clash City Rockers sao as melhores pedidas; e Complete Control é a que soa mais contemporânea (muito por causa de Rancid e companhia). Quem quiser meditar pode curtir o protodub de Armagideon Time, e quem quiser simplesmente entender porque o Clash durou mais do que os Pistols (embora sendo menos imediato) deve procurar a faixa 14, The Magnificent Seven.

Ao contrário da maioria dos discos ao vivo, From Here to Eternity segura a peteca. E quem embarcar nessa canoa agora vai encontrar muitas - e boas - razoes para procurar os discos de estúdio dessa banda única entre as que nasceram da revolta dos anos 70.




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