Cotidiano Titulo Luta
Cada vez mais distante o dia da vitória
Rodolfo de Souza
13/10/2016 | 07:00
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 No distante e vastíssimo reino do Ó, em tempos de reinado novo, o que se percebe é uma apreensão nos olhos incrédulos da imensa população que trabalha e trabalha e passa toda uma vida mergulhada até o pescoço no sacrifício e na correria sem, contudo, poder descansar um dia. Sentadinha no morro, matinho no canto da boca, bem que gostaria essa gente de apreciar verdinho tudo o que finalmente conquistou através de anos de luta. Farta colheita depois de décadas de plantio, por certo que lhe encheria o olhar.

Entretanto, lá no bunker, Sua Majestade, juntamente com uma enorme legião de nobres bajuladores, conspira para deixar nu o seu povo que sonha, até hoje, com o país do futuro que certamente lhe assegurará a tão sonhada colheita. Destaque para o fato desse papo de país do futuro ser mais antigo do que este escritor que agora desliza suavemente sua preciosa pena digital para redigir estas linhas de desabafo.

Mas lá no castelo, onde se dá o sinistro, medidas são discutidas e aprovadas com a intenção única de conter os gastos no reino que, ao que parece, estão pela hora da morte. Coisa que também vem de longa data. Logicamente que tais reformas em nada afetarão a vida da nobreza que não deixará de desfilar em gigantescos carros alegóricos com seus batedores e tampouco deixará de habitar suntuosos palácios que a curta grana desta pobre terra financia com o suor da cara. E o povo, coitado, este sim sentirá no lombo o preço dessas medidas.

Claro que poderia ser pior, já que Sua Alteza, revestida de generosidade ímpar, declarou que não cortará gastos no setor de saúde do lugar. Ideia sórdida seria essa, afinal, uma vez que a saúde pública desta longínqua terra há muito que beira o colapso. Estão aí os caríssimos convênios médicos que não me deixam mentir.

Alguém teria falado também em cortes na educação, prontamente desmentido pelo soberano que não saberia como cortar e o que cortar. Só se o dispendioso salário docente estivesse onerando a coroa. Aí talvez justificasse.

Todavia, corte vai, corte vem e ninguém mencionou cortes de salários de parlamentares e curriola da corte. Tampouco se falou em reduzir as despesas com verbas disso e daquilo que só fazem engordar o porco que habita incólume os cofres da nobreza. Negociatas país afora também continuam e continuarão a subtrai-lo na calada da noite. Tudo convenientemente bem arranjado para que operação lava isso e aquilo jamais descubra. E que faça vistas grossas, caso venha a descobrir.

Mas a população do reino do Ó está envelhecendo, outro dado assustador que vem comprometendo a receita de sua previdência. Então, para desespero do povo, planeja-se empurrar a aposentadoria do camponês, do artesão, do empregado do armazém, do ferreiro, de toda a gente do lugar, para bem longe. Essa mesma gente que, por décadas, paga vultuosa mensalidade ao monarca, pensando em se aposentar um dia e, que agora, constata estarrecida que, pelo andar da carroça, só se aposentará depois de morta. Se depender da vontade do rei, morta de velhice ou de tanto esperar.

Mas Sua Majestade, astutamente, não conta a ninguém que o seu provento de aposentado está garantido. E que provento!




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