O garçom Paulo Bento completou, em março, 20 anos a serviço da Pizzaria Jóia, de Santo André. Nessas duas décadas, ele serviu políticos, atores, empresários, personalidades diversas. De gravata borboleta preta, sapatos pretos engraxados, camisa branca impecável, ele tem aquela linguagem gestual de quem leva a sério sua profissão.

Trabalhar de tênis, mais confortáveis para quem precisa ficar em pé o tempo inteiro, nem pensar. "Vai contra a ética da profissão", pontifica. Até mesmo o moderno avental preto, com o símbolo da pizzaria "fundada em 1958", o inquieta. "O ideal seria usar paletó branco como antigamente", observa.

Aos 57 anos, prestes a se aposentar, Bento trabalha todos os dias da semana, com exceção de quarta-feira, que é a sua folga semanal. Ele afirma ter uma dívida impagável com a pizza. "É ela que sustenta a minha família, que paga a faculdade do meu filho. Dou graças a Deus por ela."

Amigo dos freqüentadores, fiel (um dia o cliente chega com a mulher, no outro com a amante e Bento fica na dele), só tem uma frustração na vida: nunca conseguiu se eleger vereador. Foram três tentativas e três derrotas.

Mesmo tendo servido redondas por 6.340 dias de sua vida, Bento come pizza diariamente. Ganhador de troféus em corridas de garçons, participante da São Silvestre, ele parou de correr, mas não parou de comer pizza. Resultado: saltou dos antigos 78 quilos para os atuais 98 kg. "Subo na balança e morro de medo", revela.