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ABC: Greenpeace denuncia venda de cal contaminada
Do Diário do Grande ABC
25/03/1999 | 17:07
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A entidade ambientalista Greenpeace denunciou nesta quinta, em Sao Paulo, a comercializaçao de cal contaminada com dioxina, um dos piores poluentes orgânicos persistentes (POPs). O banimento dos POPs é objeto de uma convençao das Naçoes Unidas, ainda em fase de negociaçao. A investigaçao sobre a contaminaçao foi solicitada pela Uniao Européia, após ter sido detectada a dioxina no leite produzido na Alemanha. A origem da contaminaçao seria a cal hidratada usada na raçao brasileira e comprada de uma indústria pestroquímica.

Em março de 1998 os alemaes concluíram que a dioxina vinha da raçao animal, feita à base de polpa cítrica e importada do Brasil. Toda a importaçao da raçao, chamada de CPP (Citric Pulp Pellets) está suspensa desde entao. O Ministério da Agricultura e a Associaçao Brasileira dos Exportadores de Citros Abecitrus, iniciaram uma investigaçao para determinar onde estava ocorrendo a contaminaçao. Contrataram para o trabalho as empresas de consultoria especializadas Midwest Research Institut MRI, dos Estados Unidos, e a ERGO Forachungsgeselischaft, da Alemanha.

Em novembro do ano passado, a investigaçao concluiu que a contaminaçao na raçao vinha da cal hidratada procedente de uma indústria petroquímica. E o ministério passou a exigir certificaçao deste insumo, utilizado na composiçao da raçao. De acordo com nota técnica (no 02/98) do ministério, a CPP produzida em 14 fábricas do País está livre da contaminaçao por dioxina. Isso inclui os estoques destinados ao consumo nacional. Após inspeçao da Uniao Européia, o Brasil pretende voltar a exportar a raçao.

Destino- O destino da cal contaminada pela dioxina, no entanto, nao ficou claro. Segundo o Greenpeace, a indústria petroquímica responsável por sua produçao é a Solvay Indupa, multinacional de origem belga, com depósito em Santo André, no ABC paulista. Neste depósito da Solvay ainda haveria em estoque 1 milhao de toneladas de cal contaminada, de acordo com os ambientalistas.

"Os resíduos tóxicos da Solvay chegaram ao mercado de cal pela Carbotex, uma empresa que comercializa lixo tóxico ", diz o relatório do Greenpeace. "A Carbotex está estabelecida no mesmo endereço da Solvay, em Santo André, e também forneceu cal contaminada para outras empresas".

Resposta- Em nota à imprensa, a Solvay afirma que nao fabrica mais cal desde 1996. Na verdade, a cal era um subproduto "de um antigo processo de fabricaçao desativado". O resíduo "foi depositada adequadamente em diques, nao oferecendo riscos ao meio ambiente", diz o texto, admitindo, entretanto, a venda do produto à Carbotex desde 1986. A relaçao com a Carbotex é de comodato, o que explica a coincidência de endereços.

A Solvay informa que a venda do resíduo à Carbotex foi interrompida em julho de 1998, após a análise de amostras da cal armazenada, feita pela Cenpes/Petrobrás. A empresa afirma que os resultados das análises "nao confirmaram a existência de ligaçao com o problema da polpa cítrica na Europa".

Marcelo Furtado, da Campanha Internacional de Substâncias Tóxicas do Greenpeace, reitera que as amostras contaminadas saíram da Solvay e da Carbotex, com base nos laudos das empresas de consultoria. E acrescenta que o produto também foi vendido à Minercal, empresa fornecedora de cal para fabricantes de fertilizantes, indústrias alimentícias e para a correçao da água de abastecimento público em Sao Paulo.

"Para o Greenpeace, devido à preocupaçao com a saúde pública e à gama de clientes da Carbotex e da Minercal, é necessária uma investigaçao completa para mapear a extensao da contaminaçao por dioxinas e garantir que os clientes destas empresas nao receberam cal contaminada", acrescenta. "É uma triste ironia que venenos persistentes gerados por uma multinacional de origem européia, em território brasileiro, acabem contaminando a comida dos europeus", diz Délcio Rodrigues, coordenador de campanhas do Greenpeace no Brasil.

Para ele, "a prática de comercializar lixo tóxico é irresponsável. O mínimo que a populaçao deve exigir é uma investigaçao detalhada sobre os caminhos que esta cal contaminada seguiu no País e a imediata descontaminaçao das fontes de dioxina na Solvay".




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