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Edvaldo Santana grava clipe de samba em Sto. André
Mauro Fernando
Do Diário do Grande ABC
08/12/2003 | 19:36
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“Vou bater laje chegado no feriado/ Se você quiser chegar é bem chegado/ No segundo andar vou morar, juntar os trapos/ Prometi pro meu amor, aumentar o barraco/ Cerveja, carne de gato, farofa, areia no prato/ Cimento, um balde de pinga, vamos tirar um retrato/ Alho e limão para o santo tirar quebranto/ Eu vou morar lá no alto perto do santo”, diz a letra do partido alto Batelaje, de Edvaldo Santana.

No domingo Edvaldo esteve no Núcleo Sacadura Cabral, em Santo André, a fim de gravar o clipe de Batelaje, samba que está no recém-lançado CD Amor de Periferia. O clima foi de festa, com churrasco (lingüiça, frango, pão, farofa), cerveja, crianças brincando com pipas, adultos em cadeiras de plástico ou sentados na calçada apertada, dividindo espaço com material de construção (areia, pedras, blocos, madeira). O samba, claro, foi do bom. Mais popular, impossível.

A equipe de filmagem (quase 30 pessoas) permaneceu em Sacadura, que está em fase de reurbanização, por mais de dez horas, desde as 6h. O grupo paulistano de samba Quinteto em Branco e Preto – que gravou Batelaje com Edvaldo –, os atores Jairo Mattos, Mário Bortolotto e Wilton Andrade, o poeta Ademir Assunção e o palhaço Clerouac participaram das gravações. Além, naturalmente, de moradores de Sacadura.

Edvaldo não estranhou o ambiente. “Sou um cara do subúrbio paulistano, filho de operário, que teve o privilégio de ler o poeta francês Charles Baudelaire. Desde pequeno ouço tudo o que é popular, Jackson do Pandeiro, Roberto Carlos, Beatles, Rolling Stones, samba. Meu projeto musical sempre teve um veio popular. A solidariedade do povo inspirou Batelaje. Todas as pessoas precisam de um lugar para morar”, afirmou.

Com o tempo ele aprendeu a sofisticar sua sonoridade repleta de influências da música negra – e de suingue: “A arte tem de ser trabalhada assim como um diamante tem de ser lapidado.” O popular não deve ser confundido com o mercadológico: “Popular não é o que vende mais, isso é balela”. Edvaldo segue na contramão da indústria cultural. Concebe o popular como algo nascido no povo, e não algo imposto ao povo.

De acordo com a desempregada Simone Santos Gomes, a filmagem alterou o domingo no Núcleo Sacadura Cabral: “Não é normal acontecer isso. É uma coisa boa que incentiva as pessoas.” Para ela, iniciativas como essa tiram a comunidade das páginas policiais e a colocam nas de cultura. “Se tivesse isso sempre seria ótimo”, disse a dona de casa Hilda Almeida.

Duas produtoras se associaram para a gravação, a Bedrock Vídeo (Jorge de Oliveira, Marcelo Montenegro e Robson Timóteo, de São Caetano) e a Firma Filmes (Albert Klinke e Álvaro Perrone). Montenegro, Timóteo, Klinke e Perrone assinam a direção. A Bedrock produziu o clipe de Ruas de São Miguel, do CD Edvaldo Santana.

“Batelaje é uma canção comunicativa e popular. Para que o clipe não fique documental, misturamos aquela coisa rápida, como no filme Cidade de Deus, com um pouco de cinema mudo”, disse Montenegro.

O que fazer com o clipe depois de pronto? Divulgá-lo. “Ruas de São Miguel gerou reportagens no telejornal SPTV (da Globo) e no Metrópolis (Cultura). E não há como fugir da MTV”, disse Montenegro. Captado em digital, o clipe deve ser finalizado ainda neste ano. “É um bom material para divulgação, independentemente de onde”, afirmou Klinke.

Edvaldo pretende fazer um show de lançamento do clipe em Sacadura Cabral. “O barato de Batelaje é que as pessoas participam”, disse. Foram gravadas cenas com uma autêntica roda de samba em uma laje.

O trabalho contou com a colaboração da gente de Sacadura. “Uma amiga que trabalha na Secretaria de Inclusão Social e Habitação de Santo André deu o toque e viemos conhecer a comunidade. Há três meses trocamos idéias com a rapaziada, sobretudo em churrascos. O pessoal do centro comunitário deu força”, afirmou Montenegro.




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