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Exposiçao tenta desvendar Lampiao
Do Diário do Grande ABC
02/02/1999 | 16:08
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Demônio e anjo. Ladrao e herói. Descrever com precisao a personalidade de Virgulino Ferreira, vulgo Lampiao, nao é uma tarefa fácil. Tanto que até hoje historiadores se esforçam em descobrir onde termina a realidade e começa o folclore. Com freqüência, acabam esbarrando na controvérsia e partindo para suposiçoes sobre a vida do cangaceiro mais famoso do País.

Um desses historiadores, porém, dedicou boa parte da vida - 49 anos, para ser mais exato - ao estudo da trajetória de Lampiao. Autor de seis livros sobre o personagem e o cangaço, Amaury Correia de Araújo pretende trazer à luz parte dos resultados de suas pesquisas. Ele é o curador, ao lado de Vera Ferreira, neta do cangaceiro, da exposiçao "Lampiao, uma Viagem pelo Cangaço", que se abre no dia 22, na Galeria Tenerife, em Sao Paulo.

A mostra - que faz parte do projeto Cultura Itinerante Dana, iniciativa da fábrica de autopeças Dana Corporation - vai reunir 24 painéis com cerca de 70 fotografias de Lampiao, do cangaço, de volantes e de lugares por onde o bando passou, além de textos de Araújo, 20 objetos que pertenceram a cangaceiros e três gravuras da série "Cangaço" feitas pelo artista plástico Aldemir Martins, que é amigo de Vera e da família de Lampiao.

As fotografias que integram a mostra sao apenas uma pequena parte do acervo de Araújo, que conta com cerca de 800 imagens, a maioria delas feita pelo mais conhecido retratista de Lampiao, Benjamin Abraao. As fotos e imagens foram adquiridas durante as 35 viagens que o pesquisador fez pelo Nordeste em busca de informaçoes sobre os cangaceiros.

Desmitificaçao - Para ele, a eterna atraçao exercida pelo personagem prova que a polêmica em torno de sua verdadeira história está longe de esgotar-se. "Lampiao está cada vez mais vivo no cinema, na literatura e nas artes em geral", afirma Araújo. Entretanto, muito do que é divulgado serve apenas para alimentar o folclore do qual o pesquisador é tao crítico (leia texto ao lado).

Por isso, um dos objetivos de "Lampiao, uma Viagem pelo Cangaço" é tentar desmitificar a figura de Lampiao, isto é, deixando um pouco de lado o cangaceiro que assolou o sertao para dar lugar ao homem Virgulino Ferreira. Araújo diz que é absurda a idéia de que os cangaceiros eram pessoas que saíam à procura de gente para matar.

"Isso nao ocorria, até porque eles precisavam do apoio da populaçao para sobreviver", esclarece o pesquisador, que, na década de 70, assinou o roteiro do programa inaugural do "Globo Repórter", da TV Globo, sobre o famoso cangaceiro.

Entre os objetos expostos vao estar uma caixa de couro que Lampiao usava na cintura para carregar fumo, palha e cigarros; um pente que pertenceu ao casal Corisco e Dadá; uma faca de Lampiao, dois anéis de ouro de Dadá; uma pistola Parabelum modelo 1917; cartucheiras e alparcatas.

No entanto, sao as fotografias o destaque da mostra. Das imagens de "Lampiao e Maria Bonita", passando pela família Ferreira reunida, até a macabra foto das cabeças do bando decapitadas, a exposiçao é uma aula de cangaço no ano seguinte às comemoraçoes do centenário de nascimento de Lampiao.

No acervo de Araújo, há também uma foto pouco conhecida de Sinhô Pereira, neto de um tradicional barao da época, que tinha um grupo de cangaceiros e, certa vez, deu abrigo a Lampiao e seu bando. "Eu o conheci pessoalmente", conta o pesquisador.

No entanto, depois de décadas sendo um dos personagens mais estudados da história brasileira, poderia existir ainda algo que nao se soubesse de Lampiao? Araújo acredita que sim. "A cada viagem que faço, descubro coisas novas", diz. "Conversei com várias pessoas que conviveram com ele e muitas desmentem histórias a seu respeito".

Depois do evento inaugural, que termina em 14 de março, serao realizadas dez exposiçoes ao longo do ano em espaços públicos (ainda nao definidos), como estaçoes do metrô e fábricas, a exemplo do que ocorreu nas mostras anteriores do projeto Cultura Itinerante Dana.




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