O Pelé das ondas está se despedindo do surfe neste início de temporada. O hexacampeao mundial Kelly Slater anunciou na sexta-feira que disputará somente cinco das 13 etapas do World Championship Tour (WCT), a divisao de elite do surfe mundial. No ano passado, o americano já tinha afirmado que se sentia uma pouco desmotivado para continuar competindo em nível profissional - tanto que seus resultados no começo da temporada passada foram ruins para um surfista como Slater.

A uma etapa do final da temporada (Pipeline, no Havaí), o hexacampeao mundial estava em terceiro lugar no campeonato, atrás das revelaçoes autralianas Michael Campbell e Daniel Wills. Slater, no entanto, conseguiu se recuperar e garantir seu sexto título mundial ao chegar até as semifinais nas ondas de Pipeline. Ao anunciar seus planos para este ano, Slater disse ainda que pretende trabalhar na área de moda e marketing da Quicksilver, empresa que o patrocina. Como vai deixar a disputa do WCT, Slater vai precisar de um wild card (convite) para disputar as cinco etapas que pretende correr.

Para os fas brasileiros, a última oportunidade de ver o fenômeno Slater competindo profissionalmente deve ter sido a etapa carioca do WCT, em outubro, quando Slater conseguiu se classificar às semifinais. O americano nunca escondeu de ninguém sua pouca motivaçao para competir nas ondas brasileiras, consideradas pequenas se comparadas com os paraísos Pipeline e G-Land, na Indonésia. Mas ainda existe uma esperança: um dos planos de Slater é se dedicar ao free surf, ou seja, visitar países somente para surfar, sem competir, só por diversao.

Entre os surfistas brasileiros, a saída de Slater foi vista com naturalidade. "Na entrega dos prêmios no Havaí, ano passado, ele tinha dito que nao correria mais o circuito, mas tenho certeza de que ele voltará daqui a um ou dois anos", disse Victor Ribas. Para Guilherme Herdy, é natural que Slater tenha decidido aposentar a prancha. 'Ele ganhou títulos, bateu recordes, fez tudo o que podia nas ondas. Acho que tudo o que ele ganhou será difícil de ser superado", afirmou Herdy.

Yuri Sodré, que foi eliminado ontem do Reef Brazil Classic 99, em Florianópolis, e praticamente deu adeus ao título da Tríplice Coroa Sul-Americana, disse que a rotina do surfe é estressante. "As vezes, estou com os amigos e já tenho que pegar um aviao e viajar", justificou. Se fosse seis vezes, também ia querer curtir a vida, amigos, família. Mas competir é um vício. Por isso, acredito que ele volte daqui a um tempo. Com certeza ele vai sentir falta``, completou Yuri.

Sobre a idéia de Slater trabalhar no surfe, mais apoio dos brasileiros. "Se ele trabalhar em prol do surfe, seja em qualquer coisa, será ótimo. Nada melhor que ter o número um cuidando do esporte", disse Herdy. Os surfistas também concordam num ponto: o campeonato, este ano, será mais equilibrado. "A última temporada já mostrou que nao tinha tanta diferença dele (Slater) para os outros tops. Este ano, o equilíbrio será tanto quanto o do ano passado", disse Herdy.

Enquanto isso, as pranchas continuam cortando as ondas da Praia da Joaquina, em Florianópolis, onde está sendo disputado o Reef Brazil Classic 99, válido pelo World Qualifying Series (WQS) e última etapa da Tríplice Coroa Sul-Americana. Os surfistas mais bem ranqueados entraram na água na tarde deste sábado. Na primeira bateria da segunda rodada, Peterson Rosa e Jojó de Olivença garantiram passagem à fase seguinte. Líder da disputa da Tríplice Coroa, Yuri Sodré foi eliminado hoje e praticamente nao tem mais chance de ganhar o título. "Perdi R$ 10 mil em 20 minutos", lamentou, referindo-se à premiaçao pelo título da competiçao. Outro favorito, Renan Rocha, também se despediu do Reef Brazil neste sábado.