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Infrator de crime grave representa 80% de internos da região na Febem
Elaine Granconato
Do Diário do Grande ABC
03/04/2005 | 19:34
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Nada menos que 308 jovens, ou 80% dos 385 infratores do Grande ABC internados na Febem (Fundação do Bem-Estar do Menor), cometeram crimes considerados graves pela Justiça. Estão nessa classificação, por exemplo, homicídios, tráfico de drogas e latrocínio (roubo seguido de morte). A maioria (248) está na instituição pela primeira vez.

Diadema é proporcionalmente a cidade da região com o menor número de internos graves. Mesmo assim, eles são 70%, ou seja, 72 de um total de 102 (veja quadro ao lado). As circunstâncias e peculiaridades que envolvem cada crime determinam a classificação grave ou média conforme o Código Penal. Por isso, a mesma infração pode aparecer nas duas categorias. Os dados são referentes ao dia 22 de março último, segundo o banco de dados da Febem.

Os números confirmam o que Angela de Luca Mastrochirico, coordenadora do posto regional da Febem, que fica no Centro de Santo André, afirmou ao Diário em 14 de março. "Temos observado que não só o número de infratores mais jovens tem crescido, mas também os crimes têm ficado mais graves", disse.

Para o advogado Ariel de Castro Alves, coordenador da Comissão da Criança e do Adolescente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Bernardo, uma boa parcela dos jovens são levados para o caminho do crime pelo consumismo. "Roubo e tráfico de drogas implicam em grande fonte de dinheiro, principalmente o último delito", ressalta Alves, conselheiro editorial do Diário.

O coordenador do Projeto Meninos e Meninas de Rua, Ademar Carlos de Oliveira, de São Bernardo, lamenta os dados apresentados. "Vejo como efeito colateral do problema original: a situação a que estão submetidos nossos jovens", afirma. Oliveira defende as políticas públicas voltadas à juventude como solução para melhores resultados. Para exemplificar, ele cita Diadema, que historicamente liderou em número de adolescentes internos – atualmente tem 102. Agora a liderança é de Santo André, com 125 internos, seguida de São Bernardo, 113.

"Os números demonstram que precisamos melhorar na rede de serviços. Mais investimentos financeiros e na qualificação de recursos humanos", diz. Oliveira ressalta ainda o trabalho desenvolvido pela Fundação Criança, instituição municipal de São Bernardo, que presta atendimento nas medidas socioeducativas em meio aberto (liberdade assistida e prestação de serviço à comunidade) aos adolescentes. Atualmente, são 379 jovens atendidos. "A Fundação Criança faz bem, mas há necessidade de ampliação da oferta", ressalta.

Para Cormarie Guimarães Perez, secretária de Ação Social e Cidadania de Diadema, a cidade começa a colher os frutos de uma rede preventiva de projetos sociais voltados à juventude, implementada pela Prefeitura local. Em 2001, o investimento era de R$ 3 milhões, e saltou para R$ 11 milhões neste ano. "A tendência é cair ainda mais o número de adolescentes internados na Febem", garante. Isso porque Diadema se aproximou mais do Ministério Público e do Poder Judiciário. "Começamos há cerca de um mês um trabalho em conjunto. O nosso próximo passo é municipalizarmos a liberdade assistida. Se não for com uma ONG local que está sendo analisada, vamos fazer direto Prefeitura e Febem", afirma.

Ainda de acordo com Ariel de Castro Alves, o quadro seria diferente se existissem unidades de internação no Grande ABC. "Unidades pequenas, divididas pelo perfil do adolescente, com atendimento personalizado e próximas da família, não tenho dúvida que os números hoje apresentados seriam bem diferentes", diz.

A secretária de Ação Social e Cidadania de Diadema, Cormarie, propõe a instalação de uma unidade de semiliberdade na cidade. "Essa é a nossa grande proposta, temos de acolher os nossos filhos sim", diz. Outro projeto futuro é a criação de uma Associação de Mães da Febem no município, semelhante a que existe em São Paulo.

Nesta segunda-feira, a instalação de unidades da Febem no Grande ABC será tema de discussão entre os prefeitos que compõem o Consórcio Intermunicipal do Grande ABC. "Reforço que temos de sentar com a Febem para discutirmos o melhor modelo de reinserção desses jovens para a região", afirma Marlene Zola, coordenadora do grupo técnico Movimento Criança Prioridade 1, ligado ao Consórcio, e presidente da Fundação Criança, além de conselheira editorial do Diário. O grupo se reúne após rejeitar a proposta do governo do Estado, que havia anunciado a construção de duas unidades para Diadema e uma para São Bernardo, num total de 480 vagas. A direção da Febem concordou em reavaliar locais e distribuição das unidades, mas não abre mão da quantidade de vagas e do prazo de construção, de oito meses.




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