Cultura & Lazer Titulo
Escândalos federais versão quadrinhos
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
04/09/2006 | 20:02
Compartilhar notícia


Não costuma ser este o lugar para comentários a respeito das picuinhas da política nacional, mas cabe uma ressalva que responde pelo nome de CorruPTos?... Mas Quem Não É? (48 págs., R$ 25 em média). A obra, um álbum de quadrinhos, resume os escândalos de corrupção que pipocaram durante o governo Lula no ano passado e que respingaram em quase todos os homens do presidente.

Raspando a superfície da série de notícias que renderam sucessivas manchetes durante quase todo o ano passado, o autor Diogo Salles recupera os personagens envolvidos sob a forma de caricatura, de rosto e de nomes, recontando no formato quadrinho as histórias que chocaram o país.

Cartuns e charges políticas caminham juntos na história do humor desde que Gutenberg iniciou a impressão em larga escala. No Brasil, desde o século XIX, a sátira oriunda dos cartunistas tem na política nacional modelo e fonte de inspiração. Diogo Salles entra nesta vertente acrescentando modernidade ao invento de Gutenberg ao utilizar recursos de computação para desenhar dólares na cueca, parlamentares enchendo os bolsos de mensalão, Bob Jeff e Zé Galinha numa rinha patrocinada por um certo publicitário, e personagens que preferiram não se pronunciar ou que declararam não saber de nada.

Salles é autor, produtor, editor e distribuidor. E ainda correu o risco de perder o humor num excesso de didatismo na empreitada.

Ao contrário do humor que Avenida Brasil, do cartunista Paulo Caruso (criado com Alex Solnik como Bar Brasil no início dos anos 80), extrai a partir de situações da política e políticos brasileiros, o texto de Salles tem conotação de cartilha. O ponto de vista é o mesmo da oposição, que pinta o governo federal como pai e mãe da corrupção. Salles reforça o quadro desenhando cardeais do PT ao lado do diabo e colocando um certo tesoureiro de cinta liga e de quatro, prestes a receber uma doação.

Aparece o emblema da impunidade parlamentar, a pizza, clichê nacional onde tudo termina. Por “tudo” entenda-se do caso Waldomiro Diniz às absolvições das CPIs. Há, contudo, uma imagem que sintetiza este momento político em que tudo parece igual a tudo que era antes: Lula vê no espellho a imagem de Fernando Henrique Cardoso.

Salles isola a corrupção como exclusiva do Partido dos Trabalhadores, vide a sigla PT no título da obra destacada em vermelho, e deixa outros partidos de lado, o que faria jus ao “mas quem não é”. Mas trata-se de uma obra que mistura ficção e fatos com humor. Segue, assim, uma tradição nacional de fazer piada até de enterro de santo.

Timidamente, aparece um ACM e um Jader com uma pizza e FHC varrendo CPIs para baixo do tapete, mas a enxurrada de sátira é sobre os petistas. O que, no caso dos outrora paladinos da ética na política, é compreensível.



Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;