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Mal súbito atinge até 30 atletas por ano, diz cardiologista
Fernão Silveira
Do Diário OnLine
27/01/2004 | 20:31
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O mal súbito cardíaco, que vitimou o atacante húngaro Miklos Fehér no último domingo, durante uma partida do Campeonato Português, atinge entre 25 e 30 atletas por ano em todo o mundo. A estatística foi apresentada nesta terça-feira pelo cardiologista Paulo Gauch, cirurgião cardíaco e coordenador da 1ª Campanha de Prevenção da Morte Súbita Cardíaca.

O médico destacou que casos semelhantes envolvendo atletas não são novidade. "A imprensa repercute desta forma agora porque todo mundo viu. Mas esse fato já vem acontecendo faz tempo", alertou, em referência às tragédias com Fehér e com o camaronês Marc-Viven Foe, em junho de 2003.

O especialista afirmou que é muito difícil precisar o que realmente ocorreu com Miklos Fehér, ainda mais após uma autópsia inconcludente divulgada pelo hospital que o atendeu (em Guimarães, Portugal). Mas o cardiologista esclareceu que a causa mais recorrente para esse tipo de óbito é a arritmia cardíaca por predisposição hereditária – como ocorreu com Foe.

"O que geralmente ocorre nesses casos de mal súbito cardíaco é uma fibrilação ventricular. O ventrículo (cada uma das cavidades do coração) não bate mais. Apenas vibra, como uma gelatina. Assim, o coração fica eletricamente desordenado", explicou.

Apesar do choque que os casos de Fehér e Foe causaram em todo o mundo, o médico Paulo Gauch frisou que a incidência de morte súbita cardíaca entre atletas é muito pequena, em comparação com o universo de milhares de esportistas de alta performance existente no planeta. Para exemplificar, o cardiologista revelou o seguinte dado: cerca de 300 mil brasileiros morrem de mal súbito cardíaco por ano, segundo estimativas (ainda sem comprovação científica).

A excelente condição física dos esportistas profissionais e a infra-estrutura que eles geralmente dispõem são explicações para a pequena incidência da morte súbita cardíaca entre atletas. "As investigações que se fazem são as melhores possíveis. Esses indivíduos têm o melhor acompanhamento médico", explicou Gauch, isentando o clube Benfica de culpa no caso.

Por outro lado, as condições privilegiadas dos esportistas também podem servir como armadilha. Apesar do amplo acompanhamento médico, a predisposição para o mal súbito cardíaco é mais difícil de ser detectada em exames comuns, de acordo com o cardiologista. "Na realidade, só se sabe que o indivíduo é paciente depois que ele morre. Até então ninguém falaria que ele corre riscos, porque é uma pessoa forte, um atleta."

Para um diagnóstico eficiente do problema, segundo o especialista, seriam necessários exames invasivos – prática que não é recomendável – ou uma investigação mais detalhada do passado do atleta, incluindo a apuração de casos de cardiopatias na família dele. "Se isso fosse feito, poderíamos evitar entre 25 e 30 mortes por ano."

Cuidados - O cardiologista Paulo Gauch aproveita a repercussão dos casos de Foe e Fehér para lançar um alerta especial aos inúmeros 'atletas de final de semana' espalhados pelo país. Os cuidados que devem ser adotados por esses entusiastas esporádicos do esporte foram abordados durante a 1ª Campanha de Prevenção da Morte Súbita Cardíaca, que aconteceu em novembro de 2003, no Rio de Janeiro.

"Sempre alertamos que o atleta de final de semana corre um risco muito grande. Como ele não fez exercícios durante a semana, quer compensar tudo em dois dias. Isso sem ter preparo físico ou acompanhamento médico", alertou o cirurgião cardíaco, que atua nos hospitais do Coração e São Luiz (em São Paulo) e é membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular.




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