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'A Metamorfose' estréia na Oficina Cultural
Mauro Fernando
Do Diário do Grande ABC
14/11/2002 | 18:17
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“Metamorfose é movimento, tem tudo a ver com a dança”, diz o bailarino e coreógrafo andreense Sandro Borelli. Estréia nesta sexta na Oficina Cultural Oswald de Andrade, em São Paulo, A Metamorfose, coreografia de Borelli inspirada na obra de Franz Kafka (1883-1924). Sete bailarinos do Grupo FAR-15, do qual Borelli é diretor artístico, entram em cena.   

“A Metamorfose é uma obra que resiste ao tempo porque aborda o homem frágil, achatado pela sociedade, oprimido pela família. (O protagonista do livro) Gregor Samsa acordou em depressão profunda, virou uma coisa qualquer e a família começou a escondê-lo e rejeitá-lo. Kafka usa a família para falar sobre o mundo”, afirma.   

Samsa se recusa a moldar-se a valores impostos por um sistema autoritário representado pelo pai e pelo chefe. “Embora lute, ele se submete. Procura romper e não consegue. Apesar de rejeitado, sente-se culpado. Daí surge a angústia, a palavra-chave da obra, que tenta transgredir e não consegue. Isso é o que mais machuca, um ser humano sem forças para resistir”, diz.   

Como transportar para a poética da dança contemporânea um discurso que toma a vida como um enigma indecifrável, que não acha respostas para perguntas sobre o absurdo da condição humana? “O processo de pesquisa gerou uma angústia”, afirma Borelli, que se identifica plenamente com a obra kafkiana. “Estou totalmente exposto no espetáculo, sinto-me como um Gregor Samsa. Toda manhã a gente morre um pouco. Isso pode ser soturno, mas não é mentirinha.”   

O coreógrafo imprimiu angústia à movimentação, “mais amarrada, não tão ampla”. “Trabalhamos com símbolos e imagens que remetem à obra. Não se trata de um espetáculo literal. O único personagem, Gregor Samsa, é um casaco que passa pelos intérpretes, o que provocou um processo de anulação do ego do artista”, diz Borelli.   

Os figurinos, assinados pelo grupo, têm cores opacas; a iluminação, por Borelli, trabalha com sombras. Composta por Kaue Moraes e Gustavo Domingues, a trilha segue na linha do soturno. A teatralidade dos balés da FAR-15 está presente. “Na ânsia de expressar as coisas da vida, há um tempero teatral forte. Mas não é premeditado, quase não vejo teatro”, diz.




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