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'Escolher' filho ainda trava adoção
Ana Macchi
Do Diário do Grande ABC
11/05/2002 | 19:10
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À primeira impressão, a quantidade de casais aprovados no Estado de São Paulo pelo Comissão Estadual Judiciária de Adoção Internacional (Cejai) que querem uma criança órfã surpreende: 7.687 casais paulistas aptos a adotar crianças, mais 351 casais estrangeiros também aprovados, enquanto o número de crianças e adolescentes prontos para adoção soma 4.073 em todo o Estado.

A procura maior que a oferta poderia solucionar o problema de abandono das crianças que hoje moram em abrigos ou que são vítimas de maus-tratos. Porém, grande parte dos interessados ‘escolhe’ o perfil do futuro filho e, por isso, fica na fila de espera.

A grande maioria das 4 mil crianças aptas não corresponde às expectativas primárias dos casais. “A maioria tem mais de 1 ano, ou são grupos de irmãos que não podem ser separados. Essas crianças, infelizmente, acabam sobrando”, disse o juiz auxiliar da Corregedoria-Geral da Justiça e ex-membro e secretário da Cejai-SP Édson Kinashi. Segundo ele, a preferência nacional recai nas meninas brancas com até seis meses e sem problemas de saúde.

O tempo de espera para adoção, entretanto, é variável e também depende de aprovações e das especificações que os cadastrados fazem. “O cadastramento pode levar de três a quatro meses, e a adoção de um a três anos. Tudo depende das oportunidades e das crianças disponíveis. O desejo por recém-nascidos no Brasil é maior e, por isso, quem está na fila precisa aguardar mais tempo”, disse o presidente da Associação Brasileira dos Magistrados da Infância e da Juventude, Rodrigo Lobato Junqueira Enout.

Ele afirmou que mais da metade dos adotantes pertence à classe média e tem predileção por crianças com características físicas semelhantes às deles. "Os recém-nascidos geralmente vão direto aos casais que estão em primeiro lugar na fila”, afirmou Enout.

Quem se interessar pela adoção deve se inscrever na Vara da Infância e da Juventude mais próxima de sua residência e pedir o cadastramento. Segundo o presidente da associação, o processo inclui entrevistas e visita domiciliar.

Os adotados têm os mesmos direitos e deveres que filhos naturais. Inclusive, em casos de separação e divórcio, a guarda e as visitas serão decididas por autoridades judiciárias.

Uma recente lei sancionada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso dá agora às mães adotivas direito de licença maternidade. Para as que adotam recém-nascidos, o prazo é de 120 dias. Na adoção de criança de 1 a 4 anos, o período cai para dois meses, e 30 dias para a que adota uma criança na faixa etária de 4 anos a 8 anos.

A assistente social Maria Inês Villalva, coordenadora do grupo de apoio à adoção Laços de Ternura, de Santo André, é favorável à lei, mas discorda do tempo reservado às mães que fazem a adoção tardia. “Lidar com uma criança maior exige mais trabalho e concentração do que nos casos de recém-nascidos”, afirmou.

Dados – Somente no primeiro trimestre de 2002, 717 crianças e adolescentes foram adotados em São Paulo, de acordo com dados divulgados pelo Tribunal de Justiça do Estado. No ano passado, 3.555 adoções foram feitas em São Paulo, sendo 3.459 por brasileiros e 96 por estrangeiros. Em 2000, o número de adoções chegou a 4.338. Dessas, 122 foram feiras por estrangeiros.




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