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O potencial da 'mãe da coceira'
Mariana Ferraz
Especial para Ciência Hoje/AM
07/06/2010 | 07:28
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Esponjas do mar são velhas conhecidas da pesquisa: diversos grupos estudam o efeito de seus compostos no sistema imunológico, no combate ao câncer e ao HIV. Agora são as esponjas de rios que ganham atenção. Mais especificamente, as esponjas dos rios da Amazônia.

Oito espécies estão sendo investigadas pelo grupo de pesquisas em química de biomoléculas da Amazônia, o Q-BiomA, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

" Os estudos químicos dessas espécies são inéditos na literatura", conta o coordenador da equipe, o engenheiro químico Valdir Veiga Junior. Ele explica que as esponjas encontradas nos rios amazônicos podem ser brancas e moles, parecidas com as esponjas marinhas, mas que o mais comum é que sejam pretas e duras.

"Elas ficam grudadas embaixo das pedras e nos troncos das árvores, perto da linha da água. Na seca é possível vê-las no alto das árvores, até 15 metros acima do chão", descreve.

O grupo já realizou coletas em trechos dos rios Tapajós, Negro e Solimões e agora parte para o arquipélago de Anavilhanas, local há pouco tempo declarado Parque Nacional. Como o estudo é muito recente, os pesquisadores ainda testam a melhor maneira de trabalhar com esses animais.

"As esponjas marinhas são retiradas da água salgada e imediatamente imersas em frascos com etanol. Nós estamos testando esta metodologia e também congelando as esponjas logo após a coleta, visando impedir que as moléculas orgânicas sejam modificadas na presença de oxigênio e luz."

O objetivo principal da pesquisa é mesmo aumentar o conhecimento sobre a biodiversidade da região, por isso o grupo trabalha em colaboração com especialistas em taxonomia. Mas há aplicações das esponjas que poderão ser exploradas no futuro. Veiga Junior conta que os espécimes coletados já estão usados em estudos da composição química para avaliar suas propriedades biológicas, como a ação cosmética, a inibição de enzimas relacionadas ao Mal de Alzheimer e a toxidade para células tumorais.

"Além disso, por serem organismos filtradores, as esponjas têm potencial para serem usadas no monitoramento ambiental, como bioindicadores", completa.

Conhecer melhor as esponjas amazônicas também poderá ajudar a resolver um problema turístico da região. No período seco, as esponjas liberam na água suas estruturas reprodutivas (as gêmulas) e espículas. Minúsculas e finas, as espículas são estruturas feitas de sílica que funcionam como ‘esqueleto' e dão proteção para esses animais. São também as responsáveis pelo nome popular das esponjas da Amazônia: cauixi, ou, a mãe da coceira.

"Conforme o nível dos rios baixa, a concentração das espículas na água aumenta, podendo provocar coceira e alergia e inviabilizando o banho em diversos igapós e igarapés", conta Veiga Junior. Segundo ele, o estudo dos componentes químicos dessas estruturas ajudaria a entender o que desencadeia o processo alérgico e contribuir para pesquisas que buscam minimizá-lo.




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