O CD tem cara de produto preparado às pressas. Na capa, a reprodução das duas anteriores, lado a lado. E embaixo, a frase-isca: “Trazendo os sucessos de Supla”. Dentro, duas míseras folhas com apenas os créditos da parte técnica e artistas convidados.
Os dois discos em questão são Humanos, de 1985, e O Outro Lado, de 1987, cada um trazendo uma formação diferente do grupo. Para quem foi adolescente nos anos 80 é até engraçado ouvir novamente aqueles sucessos trash da época. Lembrar das esquisitices da punk alemã Nina Hagen, em Garota de Berlim, e da inusitada participação de Cauby Peixoto dividindo os vocais com Supla na faixa Romântica.
Ambas são do primeiro disco, Humanos, assim como a faixa-título, que também ajudou a tirar Supla do ostracismo por ser exibida à exaustão no programa Piores Clipes do Mundo, então apresentado por Marcos Mion, na MTV.
Mas o som produzido pelo Tokyo, ouvido com atenção e senso crítico, é risível. Humanos parece um disco criado por garotos que não tinham nada mais interessante para fazer na vida. É uma misturada de influências que inclui descaradamente o The Police, então contemporâneo e no auge do sucesso. Punks bem distorcidos, esses.
As letras também são de uma ingenuidade inadmissível para qualquer punk que se preze. Vide a faixa Humanos: “Mas eu não sou, nem quero ser igual a quem me diz, que sendo igual eu posso ser feliz”. Nem de longe se vê o tom de protesto social que caracteriza o movimento. Daí, fica fácil concluir porque sempre foram apontados como punks de boutique.
Quem não ouviu Tokyo nos anos 80, mas quer saber o que fez mais sucesso na época, ficam as dicas: Garota de Berlim, Humanos e Mão Direita (de Humanos); e Batman nas Presas da Mulher Gato e Metralhar e Não Morrer (de O Outro Lado).
Depois disso, Supla foi passar uns tempos nos Estados Unidos, deixando o público brasileiro longe de suas atividades. Voltou, fez alguns shows para ajudar a campanha da mãe para o cargo de prefeita de São Paulo e continuou escondido. Então Marcos Mion o trouxe de volta, e o SBT o colocou de vez no pedestal. Agora, tem contrato com a Abril Music, onde certamente lançará novas pérolas no mercado. É isso aí: trash music is not dead!
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.