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Lucidez obscena de Hilda Hilst
Natane Tamasauskas
Do Diário do Grande ABC
17/01/2008 | 07:08
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Em vida, Hilda Hilst (1930-2004) traduzia pensamentos complexos em poucas letras, diretas, intensas e, por isso mesmo, controversas: “(...) e o que foi a vida? uma aventura obscena, de tão lúcida.”

Uma de suas principais obras, A Obscena Senhora D, em que é possível enxergar claramente a inquietude da alma da poetisa e dramaturga, ganha nova montagem teatral a partir dessa semana, no Sesc Consolação, em São Paulo.

“Eu amo Hilda, sempre amei. Ela conseguiu chegar a lugares muito difíceis. Sempre quis trabalhar com ela”, conta Suzan Damasceno, atriz que, sob direção de Donizete Mazonas e Rosi Campos, encena o monólogo homônimo ao livro da autora, lançado em 1982.

Na trama, após a morte do marido, Hillé, a Senhora D, decide viver sob vão de escada. Lá, a mulher de sessenta anos entrega-se a uma busca incessante pelo sentido das coisas. “Hillé sempre se questionou, mas chegou o momento em que precisava de respostas. E ela não sairá de lá enquanto não tocar alguma realidade”, explica a atriz, responsável também pela adaptação do texto ao lado de Germano Mello.

Em seu pequeno espaço, a Senhora D revive momentos da relação com o marido (responsável pelo apelido) e confronta a velhice como o estágio limite para a compreensão da vida, e a loucura como único meio de tal compreensão.

PAIXÃO

Mesmo admiradora fervorosa da escritora, Suzan precisou de mais de oito anos para levar Hilda Hilst aos palcos. “É um espetáculo complexo. Chegou uma época da minha vida em que entrei em contato com as mesmas questões dela. Não precisei parar e escrever, as palavras da Hilda explicavam tudo o que eu queria.”

Ao longo desses anos, a atriz integrou o CPT (Centro de Pesquisa Teatral), coordenado por Antunes Filho. Dois anos atrás resolveu debruçar-se sobre A Obscena Senhora D para montar o espetáculo. “A idéia surgiu em uma conversa com a Rosi Campos. Eu falei da minha vontade de montar o texto e ela disse que também gostaria. Naquele tempo, o Donizete Mazonas não poderia, mas acabou dando tudo certo”, revela a protagonista.

Apaixonados pelas obras de Hilda, os três atores abraçaram o projeto até torná-lo realidade. “Cada um contribuiu um pouco. Cada um deu um pouco de seu universo, de sua leitura”, completa Suzan.

Outras estréiasSimceramente ou A Trágica História de Um Dono da Verdade

A verdade em suas últimas conseqüências serve de tema para o espetáculo Simceramente ou A Trágica História de Um Dono da Verdade, que estréia amanhã, no Espaço Vitrine do Teatro Imprensa, em São Paulo.

Primeira direção de André Fusko, que também divide o palco com Marcelo Diaz e Patrícia Villela, Simceramente, como “m” mesmo, narra a relação de um homem e de uma mulher que se apaixonam por sofrer do mesmo mal: sinceridade compulsiva. Contudo, o que os une, será responsável pela decadência econômica e social do casal. É quando a figura de um cafetão, interpretado pelo ator Marcelo Diaz, provoca uma revolução no modo com que os dois personagens encaram a verdade e a mentira.

A atriz Amanda Acosta, mulher de Fusko, assina a assistência de direção. A trilha sonora original é de Kalau. A peça traz figurinos de Gerson Fragoso (figurinista da MTV) e iluminação de Tié Fabiano.

Simceramente ou A Trágica História de Um Dono da Verdade. No Espaço Vitrine do Teatro Imprensa – Rua Jaceguai, 400. Tel.: 3241-4203. Ingr.: R$ 20. 6ª e sáb., às 21h30; dom., às 19h. Até 24 de fevereiro.

Besouro Cordão-de-Ouro

Primeiro texto do compositor Paulo César Pinheiro – autor de Lapinha e Canto das Três Raças –, Besouro Cordão-de-Ouro entra em cartaz no galpão do Sesc Pompéia a partir de amanhã.

Em formato de roda de capoeira, o espetáculo dirigido por João das Neves conta a vida de Manuel Henrique Pereira (1897-1924), o Besouro Cordão-de-Ouro ou o Besouro-Mangangá, maior capoeirista de todos os tempos da Bahia.

Besouro Cordão-de-Ouro. No galpão do Sesc Pompéia – r. Clélia, 93, São Paulo. Tel.: 3871-7700. Ingr.: de R$ 4 a R$ 16. 6ª e sáb., às 21h30; dom., às 18h30. Até 24 de fevereiro.

Calabar – Breviário
Com a primeira montagem censurada em 1974 e levada aos palcos seis anos depois, o texto de Ruy Guerra e Chico Buarque ganha nova versão com estréia programada para amanhã, no Sesc Avenida Paulista, em São Paulo.

A versão enxuta de Heron Coelho deixa na atuação seu foco e tem como destaque a trilha sonora. Em Calabar – Breviário estão músicas presentes no roteiro original, como Tatuagem e Não Existe Pecado ao Sul do Equador, além de outras canções compostas por Ruy Guerra, como Esse Mundo É Meu e Corpo e Alma.

No palco, a história de Domingos Fernandes Calabar, aliado dos portugueses que passou para o lado dos holandeses em 1632. A trama traça um paralelo das relações Brasil-Portugal à época da colonização.

Calabar – Breviário. No Espaço 10º Andar do Sesc Avenida Paulista – av. Paulista, 119. Tel.: 3179-3700. Ingr.: de R$ 5 a R$ 20. 6ª a dom., às 21h. Até 2 de março.



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