A veiculaçao de um comercial de 30 segundos, a partir do início deste mês em vários canais de TV, serviu de recompensa a um grupo de três estudantes de Publicidade e Propaganda da Umesp (Universidade Metodista de Sao Paulo), de Sao Bernardo. Elas elaboraram o projeto de campanha para a AACD (Associaçao de Assistência à Criança Defeituosa) como trabalho de conclusao de curso com outros seis alunos, mas o trio teve de fazer adaptaçoes nele - como melhorias gráficas e sonoras em uma produtora, além de transformaçoes para película de cinema - desde março deste ano, para o comercial ficar pronto no final de maio.

Apesar de a campanha ser considerada a melhor da turma na Metodista e, por isso, conseguir a indicaçao ao concurso da APP (Associaçao de Profissionais de Propaganda), onde no ano passado foi campea entre 25 concorrentes, a difusao do comercial feito para a TV e a possível indicaçao ao prêmio do Festival de Cannes (França) de 2000 - o mais importante na publicidade mundial - na categoria institucional foi recebida como um prêmio ainda maior pelo grupo. Poucas campanhas, apesar da boa qualidade, saem do meio acadêmico e ganham páginas de revistas, trailers de cinema e intervalos televisivos.

O comercial da TV, chamado Sufoco, foi criado com uma linguagem de impacto e tem como objetivo a ampliaçao de sócios-doadores, que contribuem mensalmente com a AACD com, no mínimo, R$ 10, e, no máximo, R$ 30. "A maioria das pessoas lembra da entidade como aquela que vende cartoes de Natal, esquecendo-se da necessidade dela durante o resto do ano. Por isso, colocamos o garoto segurando a respiraçao daquela maneira", contou Elisângela Espinossi, 23, uma das criadoras do anúncio.

No início, Sufoco mostra poucos segundos da falta de ar do garoto Ivan Lucas Rolfsen, 10 anos, ele próprio um portador de deficiência. Em seguida, vem uma mensagem: "Experimente ficar nos próximos segundos sem respirar", com outra imagem de Lucas prendendo o ar na seqüência e uma resposta logo a seguir, em fundo preto ("É exatamente este o sufoco que a AACD está sentindo"). Na imagem posterior, Lucas solta o ar e continua ofegante, mas tem junto o telefone do doador mensal da entidade (0800-144577). "A mensagem tinha de ser forte e sair do lugar-comum, que é mostrar imagens das crianças na entidade", disse Melanie Silva, 21.

Segundo o coordenador do curso de Publicidade e Propaganda da Umesp, Paulo Rogério Tarsitano, 43, a escolha de uma campanha de marketing social também representou um desafio ao grupo, já que a recepçao do público nessa área é mais difícil. "Além disso, as estudantes aprenderam que a propaganda serve para melhorar a vida de outras pessoas, o que extrapola a questao profissional", disse ele.

Para Roberta Tieko, da equipe de criaçao, acompanhar o dia-a-dia das crianças serviu como estímulo ao término do projeto, mesmo com acúmulo de funçoes. "Tirar o estereótipo de coitadinhos delas, já que se divertem mesmo com seus defeitos, e conhecer suas necessidades fez com que concluíssemos o projeto da melhor maneira que era possível, superando eventuais divergências internas", afirmou. A campanha pode ser vista no site da AACD.