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Pelé: 60 anos que mudaram o mundo
Nelson Cilo
Especial para o Diário
22/10/2000 | 21:35
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  O mito, a lenda e a realidade se confundem na história de Pelé, que nesta segunda completa 60 anos de idade. Já se falou de tudo sobre o Atleta do Século. O relato mais original saiu da boca do próprio personagem no Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro. O depoimento recria, sem cortes, a trajetória do mineiro de Três Coraçoes, que saiu de lá para viver a infância em Bauru-SP. Os pais Dondinho e Celeste ouviram da parteira: nasceu um rei... Que um dia atravessou o mundo e ouviu o cântico das criancinhas da China, de bandeirolas nas maos, que nunca o viram nos campos, mas já sabiam que na janela do hotel estava uma figura singelamente universal.

A literatura do futebol nunca mais parou de escrever e reescrever a biografia de Edson Arantes do Nascimento. Os arquivos e os sites estao cheios de informaçoes. Os pesquisadores nao sabem se começam pelo meio ou pelo fim. Os escritores também nao. Os produtores de filmes, idem. Os jornalistas descarregam adjetivos. Os torcedores lamentam de saudade das gingas, dos dribles, das arrancadas, do olhar felino da fera.

Pelé confessa que ainda se emociona ao ver um dos mil gols marcados em 18 anos de carreira. O ex-engraxate - que até hoje guarda a caixa na sala de troféus do Guarujá - quase chora ao lembrar que era um moleque sapeca nos tempos de Baquinho, do Rádio e do 7 de Setembro, todos de Bauru. Jogava o fino da bola. Dondinho se orgulhava. Dona Celeste, ao contrário, jamais viu o filho nos gramados. Nem na Vila Belmiro nem Pacaembu. Nem no Morumbi ou Maracana. Nem nas Copas do Mundo. Nos dias de jogos, preferia rezar na paróquia. Nao para que o Dico ganhasse, mas para que ele nao se machucasse. Mulher guerreira que até lavou roupa fora de casa para sustentar Dico, Zoca e Lúcia, os três irmaos.

O garoto magricela atirava bolinha de gude que rolava no chao e caía no buraco. Chutava bola de meia. De capotao e de couro. Waldemar de Brito decidiu levá-lo para o Santos. Conquistou incontáveis títulos. Três mundiais pela Seleçao Brasileira. Bateu no Corinthians como ninguém. A Fiel o odiou de tanta raiva. Exatamente 49 gols em 49 jogos.

Portanto, a maldiçao nao era o sapo enterrado pertinho do pau da bandeira do Parque Sao Jorge. Iria encerrar a carreira no Cosmos de Nova York. Jurou aos deuses: nunca mais... Só que a imagem do garoto-propaganda nao pára de sair na TV. Nas páginas das revistas. Nas manchetes dos jornais. No site Pelenet.com da Internet, que o conduz aos confins do planeta.

A Abril Multimídia também lança nesta segunda um livro de fotos cuidadosamente selecionadas - algumas inéditas - em que Pelé se expoe numa espécie de auto-retrato irretocável. Colorido ou em preto-e-branco. A obra custa caro - R$ 60 -, mas vale a pena conferir a publicaçao, que destaca uma das lembranças do inglês Bobby Moore. "Pelé avançou. Eu o cerquei na bandeira de escanteio e pensei comigo: vou tomar-lhe a bola agora. De repente, me vi só. Ele me deixou parado. A bola e o talento devastador para o outro lado... A rapidez com que tudo aconteceu até hoje me mantém intrigado. Como é que ele conseguiu?".




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