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Medicina recua e alunos voltam à aula após trote
Luciana Sereno
Do Diário do Grande ABC
18/02/2004 | 22:01
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O diretor da Faculdade de Medicina do ABC, Luiz Henrique Paschoal, voltou atrás na suspensão dos 600 estudantes do curso. Nesta quarta-feira, as aulas aconteceram normalmente em todos os anos e os internos – que atuam nos hospitais públicos – retomaram os plantões. Na sala dos calouros, porém, apenas 26 dos 100 estudantes matriculados estavam presentes. Nesta terça-feira, Paschoal anunciara a suspensão por tempo indeterminado dos alunos por causa de trote violento no primeiro dia de aula.

Cerca de 300 alunos, entre veteranos e calouros, participaram da sessão de trote violento na manhã da segunda-feira. Calouros da Medicina foram amarrados, forçados a rolar apenas com roupas íntimas na lama do estacionamento da Fundação Santo André (escola vizinha) e a ingerir bebida alcoólica. A informação foi confirmada por alunos (veteranos e calouros, inclusive de outros cursos), seguranças e pelo próprio diretor Paschoal ao anunciar a suspensão. Nesta terça-feira, depois da retomada das aulas, o trote nos recém-chegados ao campus foi mais brando: pintados, eles fizeram pedágios nos faróis em vários pontos da cidade.

Houve intensa polêmica no campus por causa da decisão da direção da faculdade de suspender todos os alunos, veteranos e calouros. Os universitários questionaram a generalização da punição. “Se ele disse que viu meninos e meninas seminus, porque não impediu a continuidade (do trote) ao invés de sentar no gabinete e baixar a portaria sobre a suspensão? No ano passado, houve nove suspensões por exagero na brincadeira, mas desta vez ele generalizou”, disse o presidente do DA (Diretório Acadêmico) da faculdade, Guilherme Pereira Guimarães. Paschoal afirmou que, chamado ao estacionamento, ordenou a interrupção imediata do trote e então voltou a sua sala. Guimarães não estava na faculdade no dia. O diretor do DA e outros veteranos da Medicina ABC negam que tenha havido violência no trote.

Outro grupo de veteranos, porém, afirma o contrário: “Vi veterano batendo no rosto de calouras, sim. Isso acontece aqui desde que entrei há quatros anos e nunca alguém havia tomado providências”, afirmou uma estudante do 4º ano, que pediu para não ser identificada com medo de represálias.

Diante da repercussão negativa, Paschoal mudou o discurso e negou que tivesse visto “garotos só de cuecas e meninas de calcinha e sutiã sendo obrigados a rolarem na lama e se esfregarem uns nos outros”, como declarou nesta terça ao Diário. O diretor afirmou também, que decidirá nesta sexta-feira em reunião da Congregação – órgão máximo deliberativo da Faculdade de Medicina – se as faltas serão ou não consideradas. “Eles se comprometeram a arrecadar cestas básicas e realizar campanhas de doação de sangue.”

Ressarcimento – Jovens vítimas do trote não voltaram para a faculdade nesta quarta-feira. Alguns pais prometem ingressar na Justiça contra a faculdade por danos materiais e morais. A mensalidade do curso é de R$ 1,9 mil. “Quem decidir desistir do curso terá restituição de 70% dos valores pagos”, afirmou Paschoal.




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