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Antes triste pelo preconceito, hoje campeão
Felipe Munhoz
Especial para o Diário
21/11/2006 | 23:27
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A paralisia infantil que Michael Barranco, 13 anos, teve após o nascimento lhe causava muitos transtornos no dia-a-dia. Não por alguma dificuldade física, mas pelo preconceito que enfrentava na escola com os próprios colegas. Por sorte e competência, Michael viu sua vida mudar através do atletismo. O garoto participou, no final de outubro, dos JEBs (Jogos Escolares Brasileiros), em Fortaleza, para atletas paraolímpicos e trouxe na bagagem três títulos nacionais: os 75 e os 250 metros rasos e o salto em distância.

Michael entrou para o atletismo por um acaso. O menino faz aulas de artes no CEU (Clínica Especializada Unificada) do Parque São Rafael, em São Paulo, e pediu para o professor de educação física, Luiz Carlos Ganança, se poderia treinar atletismo como as outras crianças. Por sorte, Michael – que tem parte dos movimentos do lado direito do corpo afetados pela paralisia infantil – falou com a pessoa certa. Luiz Ganança participa da Ong Parceiros do Esporte, que divulga o atletismo em escolas e CEUs da capital paulista, além de ser treinador no Clube Ícaro de Atletismo, de Santo André.

“Quando vi aquele menino forte, com corpo de atleta, já pensei que ia dar certo. Mas eu procurei a Seped (Secretaria Especial de Pessoa com Deficiência) para me ajudar. Descobri que não existe diferença entre deficiente físico e uma pessoa ‘normal’. A gente treina da mesma forma”, comentou o treinador de Michael, Luiz Ganança, de Santo André.

Depois de pouco tempo de treinamento, a Seped quis saber como estava o trabalho com o garoto. “Me pediram os índices dele, a gente nem tinha. Marcamos e mandamos para eles. Após alguns dias, telefonaram com a notícia que ele iria representar São Paulo – através da Seped – no JEBs de Fortaleza”, lembrou o treinador.

Michael viajou para Fortaleza feliz, mas nada satisfeito. “Ele foi com muita fome de vencer. Antes de ir, me ligou e disse: ‘Professor, quero muito ganhar uma medalha’. Quando me telefonou de Fortaleza dizendo que tinha conquistado uma medalha de ouro, quase não acreditei. Fiquei muito emocionado”, lembrou Ganança.

Dificuldades – O atleta Michael Barranco vive numa região pobre de São Paulo, onde a violência e as drogas caminham lado a lado com o esporte que o garoto descobriu. “Eu não gostava muito de atletismo, era difícil eu ver na TV. Agora o atletismo é tudo para mim”, comenta o menino que já sentiu de perto os efeitos da violência ao perder o irmão assassinado.

Mas o garoto de 13 anos não sofre apenas com a criminalidade das ruas, Michael também já teve que enfrentar, por muito tempo, a violência moral. “Antes me davam muitos apelidos por causa do meu problema (paralisia infantil), me chamavam de mãozinha torta e eu ficava muito triste, sempre tive dificuldade para aceitar este tipo de brincadeira. Depois que eu voltei de Fortaleza com as medalhas estão me respeitando mais”, desabafa.

(Supervisão de Marcelo Camargo)




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