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Livros abordam a evoluçao do cinema latino-americano
Do Diário do Grande ABC
16/10/2000 | 13:01
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As cinematografias latino-americanas merecem na Europa uma atençao mínima, o que contrasta com o interesse cada vez mais crescente que desperta nos Estados Unidos, assegura o jornalista e historiador brasileiro Antonio Paranaguá, autor do ensaio ``Le miroir éclaté' (O espelho fragmentado), que está sendo lançado esta semana na França.

Paranaguá também apresenta no próximo dia 26, em Valência (Espanha), a monografia que coordenou para o Instituto Valência de Cinematografia sob o título ``Brasil, entre o modernismo e a modernidade'.

Em ``O espelho fragmentado, o cinema na América Latina, historiografia e comparatismo' (Editora L'Harmattan), tese de doutorado realizada na Universidade de Sorbonne, Paranaguá tenta fazer um balanço dos estudos sobre os cinemas da América Latina publicados ao longo de 40 anos na Europa e na América.

``Muito foi feito para se resgatar o passado, mas quase todos os estudos têm como marco um país, desconhecem as outras realidades e isso empobrece a perspectiva porque as interaçoes sao muitas', explicou o autor.

Destacam-se nomes como o brasileiro Alex Viany ou o argentino Domingo Di Núbila, que representam a constituiçao da história do cinema como disciplina autônoma em relaçao à indústria.

Mais tarde chega a efervescência teórica gerada pela Revoluçao Cubana, o mexicano Emilio García Riera foi o primeiro a criar escola (a chamada Guadalajara) e com a chegada do brasileiro Glauber Rocha em 1963 cria-se a polêmica.

Na segunda parte de seu trabalho, Paranaguá esboça uma história comparada dos cinemas de vários países da América Latina e propoe considerar as variantes como a distribuiçao e a exibiçao, monopolizadas pelos Estados Unidos, salvo poucas exceçoes.

Estuda entao as aproximaçoes bibliográficas entre os cinemas do Brasil, México e Cuba. Ele cita o caso concreto de Luis Buñuel e Arturo Ripstein; sua participaçao na elaboraçao na França do famoso ``Dicionário do Cinema Mundial' (Ed. Larousse) lhe permite observar a evoluçao dos nomes hispânicos incorporados e os nao admitidos.

``Para resolver alguns problemas temos que ampliar os marcos de referência, tanto para os estudos como para os mercados, e criar uma forma mais integrada de considerá-los', afirma Paranaguá, que critica as análises de muitos cinéfilos pouco abertos ao conjunto da cultura e da sociedade.

A mesma preocupaçao de nao se limitar a listar nomes e títulos, mas de mostrar como os estudiosos se interessam pelos estudos de um caso cinematográfico concreto está presente em ``Brasil, entre modernismo e modernidade'.

Os trabalhos compilados com este título genérico de monografia nº 36 de Arquivos da Filmoteca, do Instituto Valência de Cinematografia Ricardo Muñoz Suay, pretendem demonstrar que sucessos como ``Central do Brasil', do jovem Walter Salles, nao nascem do nada, mas sao frutos de uma tradiçao de cinema moderno que tem certa continuidade desde os anos 60.

``O Cinema Novo brasileiro dos anos sessenta pode se considerar uma terceira ou quarta geraçao modernista que mantém um vínculo com o auge dos anos vinte e trinta', explica Paranaguá.

O livro, formado por textos em sua maioria inéditos, acompanha a exposiçao ``Brasil 1920-50, da antropofagia a Brasilia' que será inaugurada no próximo dia 26 no Instituto Valenciano de Arte Moderno (IVAM), como parte das comemoraçoes pelos ``500 anos de descobrimento do Brasil'.

Residente em Paris, Paulo Antonio Paranaguá (Rio de Janeiro, 1948) é jornalista da Radio Francia Internacional (RFI), colabora com o canal de tevê CineClassics e publicou uma dúzia de livros sobre cinema e cineastas da América Latina.

Agora mesmo, seu livro ''El', de Luis Buñuel' (Ed Paidós, Barcelona) está sendo impresso.




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