O que não falta nessas festas é churrasco, chimarrão e danças típicas. O patrão (diretor) da casa, o advogado Hélio Louzado, 56 anos, explicou que nas danças existem restrições que precisam ser obedecidas. “Os homens não podem dançar com chapéu e faca e as mulheres com vestimentas curtas. O objetivo é manter a família reunida e o respeito mútuo entre as pessoas. Não queremos que a piazada (grupo de jovens) cresça no meio desse lixo cultural”, disse.
No grupo, as expressões gaúchas são usadas com freqüência por praticamente todos os sócios e participantes do centro Meu Pago, expressão que significa, no regionalismo do gaúcho, minha terra. Há dez anos integrante do grupo, José Luiz Silva é comerciante e tesoureiro do Meu Pago. No linguajar gauchesco, seu posto é definido como o 2º Agregado das Pilchas. Se veste com bombacha, lenço, guaiaca, bota e ainda é dono de uma adega gaúcha rústica em São Paulo. Porém, curiosamente, não é do Sul que ele veio. “Falam que eu vim do Sul Ará (mistura de Ceará com Rio Grande do Sul). Mas, na verdade, sou de Pernambuco. Resolvi morar aqui e virei gaúcho. Até sotaque eu tenho”, brincou.
Para ele, a distância entre as regiões estão entrelaçadas pela cultura dos dois Estados. “Os dois gostam de cavalo e de usar faca. Porém, em termos de respeito, os gaúchos ganham porque se preocupam com a individualidade dos próximos. É um dos pontos altos do rio-grandense”, disse.
Outro adepto, o bancário Paulo Assis Soares da Luz, 30, gaúcho nato, auxilia na criação de dez cavalos crioulos, raça típica do Rio Grande do Sul. “Antigamente costumava trabalhar vestido a caráter. Com o tempo, tive de me adaptar ao dia-a-dia do paulista, mas sempre que posso volto às origens”, disse. Para ele, as festas de churrasco na vala, fogo de chão e de danças típicas, como a chula do sapateiro, todas promovidas pela Invernada Artística (diretoria de arte), ajudam a resgatar o espírito do Sul, mesmo morando em Diadema. “É como se estivesse no meu pago”, brincou.
O fogo de chão, por exemplo, reúne os gaúchos mais chegados em entreter o queixo, expressão usada por eles para jogar conversa fora enquanto comem quilos de carne. “Aqui o chimarrão passa de mão em mão. Para quem gosta, é um bom espaço para declamar poesias e ouvir a boa música do Sul”, contou.
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