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Longe dos pampas, Diadema vira terra de 'gaúchos'
Ana Macchi
Do Diário do Grande ABC
17/03/2001 | 16:20
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No Rio Grande do Sul existe um ditado que diz que ser gaúcho é estado de espírito. É mais ou menos isso que acontece no Centro de Tradições Gaúchas Meu Pago, localizado na estrada Maria Cristina, no bairro de Eldorado, em Diadema. Bem longe dos pampas, uma comunidade formada por paulistas, mineiros, nordestinos e também, claro, por muitos gaúchos se reúne mensalmente para reviver as tradições do Sul brasileiro. Já adaptados ao sotaque cantado, os homens se vestem com pilcha e as mulheres com prendas, sempre seguindo à risca os costumes mais antigos dos pampas.

O que não falta nessas festas é churrasco, chimarrão e danças típicas. O patrão (diretor) da casa, o advogado Hélio Louzado, 56 anos, explicou que nas danças existem restrições que precisam ser obedecidas. “Os homens não podem dançar com chapéu e faca e as mulheres com vestimentas curtas. O objetivo é manter a família reunida e o respeito mútuo entre as pessoas. Não queremos que a piazada (grupo de jovens) cresça no meio desse lixo cultural”, disse.

No grupo, as expressões gaúchas são usadas com freqüência por praticamente todos os sócios e participantes do centro Meu Pago, expressão que significa, no regionalismo do gaúcho, minha terra. Há dez anos integrante do grupo, José Luiz Silva é comerciante e tesoureiro do Meu Pago. No linguajar gauchesco, seu posto é definido como o 2º Agregado das Pilchas. Se veste com bombacha, lenço, guaiaca, bota e ainda é dono de uma adega gaúcha rústica em São Paulo. Porém, curiosamente, não é do Sul que ele veio. “Falam que eu vim do Sul Ará (mistura de Ceará com Rio Grande do Sul). Mas, na verdade, sou de Pernambuco. Resolvi morar aqui e virei gaúcho. Até sotaque eu tenho”, brincou.

Para ele, a distância entre as regiões estão entrelaçadas pela cultura dos dois Estados. “Os dois gostam de cavalo e de usar faca. Porém, em termos de respeito, os gaúchos ganham porque se preocupam com a individualidade dos próximos. É um dos pontos altos do rio-grandense”, disse.

Outro adepto, o bancário Paulo Assis Soares da Luz, 30, gaúcho nato, auxilia na criação de dez cavalos crioulos, raça típica do Rio Grande do Sul. “Antigamente costumava trabalhar vestido a caráter. Com o tempo, tive de me adaptar ao dia-a-dia do paulista, mas sempre que posso volto às origens”, disse. Para ele, as festas de churrasco na vala, fogo de chão e de danças típicas, como a chula do sapateiro, todas promovidas pela Invernada Artística (diretoria de arte), ajudam a resgatar o espírito do Sul, mesmo morando em Diadema. “É como se estivesse no meu pago”, brincou.

O fogo de chão, por exemplo, reúne os gaúchos mais chegados em entreter o queixo, expressão usada por eles para jogar conversa fora enquanto comem quilos de carne. “Aqui o chimarrão passa de mão em mão. Para quem gosta, é um bom espaço para declamar poesias e ouvir a boa música do Sul”, contou.




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