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Marinho promete sete CEUs até 2012
Beto Silva e Illenia Negrin
27/06/2010 | 07:37
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Alternando situações descontraídas com momentos de certa tensão, o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), recebeu a equipe do Diário em seu gabinete. No local, o sofá aconchegante de seu antecessor, William Dib (PSDB), não existe mais. A foto aérea estampada em toda a área da parede atrás da cadeira número um do Executivo permanece. Em sua mesa, processos administrativos a serem despachados. Na decoração, estão presentes de visitantes, retratos da família e, como não poderia faltar, quadro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu padrinho político.

Na conversa de 84 minutos, Marinho falou sobre quase tudo. Ainda havia muitas explicações a extrair do ex-sindicalista e ex-ministro da Previdência e do Trabalho, 51 anos, que visa implementar "um novo conceito de cidade" em São Bernardo.

Durante o bate-papo, garantiu que obras importantes - que integram seu plano de governo - sairão do papel até 2012. Com ou sem o PT no governo federal. Bem humorado, disse que a possível vitória de José Serra não inviabilizaria os projetos que pretende executar com a ajuda da União. "Já está tudo contratado. Mas o Serra também é meu amigo."

Na Educação, o prefeito prometeu criar 14 mil vagas no Ensino Infantil e acabar de vez com o incômodo déficit de vagas em creches, que quase rendeu ao município multa astronômica.

Falou também do polêmico atraso na entrega dos uniformes e dos projetos de descentralização da Saúde. No campo político, Marinho teve língua ferina. Disse que Dib "foi irresponsável", que Lula não interfere em seu trabalho e que já é candidato à reeleição.

São Bernardo vai se transformar num enorme canteiro de obras. Essa é a promessa do prefeito Luiz Marinho, que estabeleceu metas audaciosas para cumprir até o fim de seu mandato. O pacote prevê investimentos vultuosos na construção de complexos na área de Educação, Saúde e Habitação. "Estamos trabalhando um novo conceito de cidade. Queremos mudar. Não podemos abrir mão de pensar a longo prazo. São Bernardo precisa de planejamento", avalia.

O prefeito garante que, até 2012, a cidade ganhará sete CEUs (Centros Educacionais Unificados), nove UPAs (Unidades de Pronto Atendimento), um hospital de referência em alta complexidade e mais de 5.000 unidades habitacionais. Parte dos investimentos serão possíveis graças a convênios com o governo federal.

Marinho afirma que a proximidade das eleições presidenciais e a possibilidade de mudanças no comando do País não alteram a remessa de recursos ao município. "As obras já estão contratadas. Só falta executar", avisa.

Educação - A implementação dos CEUs na periferia da cidade vai resolver um dos maiores problemas do município, o déficit de vagas no Ensino Infatil. De acordo com o prefeito, as sete unidades vão criar 14 mil vagas para crianças de zero a 5 anos. Hoje, mais de 11 mil alunos nessa faixa etária estão fora da escola, aguardando em listas de espera.

O rombo, segundo Marinho, foi herdado da administração anterior. Em 2006, a Justiça acolheu o pedido do Ministério Público e determinou que a Prefeitura criasse 8.300 vagas em creches, num período de dois anos.

O MP alega que a sentença foi parcialmente cumprida e ameaçou executar multa de R$ 151 milhões caso a Prefeitura não apresentasse um plano de erradicação do déficit.

Os CEUs de São Bernardo serão instalados nos mesmos moldes dos da Capital. O projeto foi idealizado durante a gestão da prefeita petista Marta Suplicy (2000-2004) e integra escola, quadra poliesportiva, teatro, playground, biblioteca e e laboratórios de informática. Durante os fins de semana, os centros permanecem abertos à comunidade.

"A única diferença é que os nossos não terão piscinas. As atividades aquáticas serão realizadas na estrutura que já possuímos. Os complexos do Baetão e da Paulicéia serão reformulados", explica.

Os CEUs serão erguidos no Jardim Silvina, bairro Três Marias, Parque Havaí, e no antigo Clube da Volks, região da Vila São Pedro - ali será erguido complexo com quatro unidades.

Uniforme - Além do déficit de creches, outro gargalo que a administração promete desfazer é o da entrega dos uniformes. No início do ano, a Prefeitura espalhou outdoors pela cidade, informando que os kits seriam entregues aos alunos na primeira semana de aula, em fevereiro. Não foi o que aconteceu.

Até hoje, às vésperas das férias, algumas escolas ainda não receberam os uniformes. "É uma minoria. Infelizmente, estamos na mão do fornecedor. E já estudamos as medidas legais para puni-los financeiramente", sustenta.

Para evitar que o atraso se repita, Marinho afirma que em julho lançará o edital de licitação para a compra dos uniformes que serão distribuídos em 2011. "Estamos falando de um esquema bastante complexo, que envolve cerca de 90 mil crianças. Vamos antecipar a compra para receber o material até dezembro", completou.

Saúde - Marinho ainda pretende reformular o sistema de Saúde da cidade, uma de suas promessas de campanha. Segundo o prefeito, até 2012 as nove UPAs serão concluídas. A primeira, na Vila São Pedro, foi inaugurada no final do ano. Em setembro, serão abertas mais duas, no Riacho Grande e Vila União. As unidades devem desafogar o PS Central (Pronto-Socorro), com a descentralização do atendimento de urgências e emergências de baixa complexidade.

A falta de leitos em UTI (Unidade de Terapia Intensiva) será revertida com a construção do Hospital de Clínicas, no bairro Alvarenga. A obra custará R$ 102 milhões e será iniciada neste ano.

Sem papas na língua, prefeito diz que Dib foi ‘irresponsável'
Ao falar de política, o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), não teve papas na língua e atacou a gestão de seu antecessor e rival político, William Dib (PSDB). "Foi irresponsável", aponta o petista, referindo-se a R$ 280 milhões liberados pelo governo federal e que não foram aplicados na administração passada.

Os recursos eram oriundos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), principalmente para as áreas de Habitação, Saneamento e Drenagem. Segundo Marinho, durante a transição do governo, no fim de 2008, teve conhecimento de que a verba estava parada nos cofres da União. Faltavam alguns documentos que teriam de ser enviados à Caixa Econômica Federal até 31 de dezembro.

"A transição do Dib para mim não me deu condição de cumprir (as exigências). Eram eles (grupo de Dib) que precisavam dar informações, assinar um monte de coisa", lembra o chefe do Executivo.

Afilhado político do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marinho procurou o padrinho para resolver a situação. Mas ressalta que, apesar da proximidade quase familiar, não teve privilégios. "Expliquei para ele o caso e disse que vários municípios do Brasil poderiam estar na mesma situação. Então o presidente postergou o fornecimento dos dados da Habitação para 31 de março (de 2009) e Saneamento e drenagem para 31 de abril. Quase perdemos o dinheiro. Não foi um benefício só para São Bernardo, foi para o País todo", disparou. "Ele não cumpria os prazos, e dizia que o governo federal não ajudava com recursos", completou.

O ex-chefe do Executivo William Dib foi procurado, mas não retornou os contatos da reportagem para comentar o assunto.

Interferência de Lula - Segundo Marinho, a interferência do presidente Lula em sua gestão é ‘zero'. "O que existe são reflexões, análises de rumos, angústias. Interferência é ligar e dizer: ‘olha que tal coisa está acontecendo ali, muda'. Isso não existe. Isso nós fazemos."

Para o petista, interferência "sempre é ruim, mesmo sendo do presidente Lula". "Ninguém gosta. Participação e reflexão são coisas boas. Ele é bom conselheiro. Vamos ouvi-lo sempre. Quem não ouviria o presidente Lula? No ramo da política é bastante conhecedor", avalia, sem no entanto apontar uma sugestão de Lula concretizada na cidade.

Reeleição - Ao contrário da maioria dos discursos de políticos tradicionais, Luiz Marinho, no alto de um ano e meio de governo, já admite que será candidato à reeleição. "Tem candidato que nem isso tem coragem de ser, como aconteceu já na região", salientou, ao falar sobre Leonel Damo, de Mauá, que em 2008 abriu mão da disputa do segundo mandato consecutivo.

Com a cabeça da chapa consolidada, resta buscar nos próximos dois anos o candidato a vice, já que o atual dono do cargo, Frank Aguiar (PTB), disputará vaga à Câmara Federal neste ano e tem grandes chances de retornar a Brasília.

Marinho garante que o petebista não deixará a função de deputado em 2012, como fez em 2008 para popularizar a candidatura do PT. "Ele não volta. Ainda não temos um vice natural. Temos de deixar passar a eleição e, sob a luz dos resultados, dar sequência à aliança que construímos há dois anos. A partir daí discutimos a construção do vice. Não tem necessidade de ser chapa pura. O PT sabe que não é possível ganhar a eleição sozinho. É consciência partidária."

Equipe de governo - Na análise sobre a atuação de sua equipe de governo - em 18 meses saíram cinco dos 22 secretários -, o prefeito observa que houve decepções. Mas considera esse sentimento normal. "Você monta um quadro, gera expectativa, é um técnico, intelectual, mas não é para dirigir e executar o que você precisa e eventualmente no ritmo que precisa. Como tudo na vida, já me decepcionei", frisa. "Em time de futebol e equipe de governo, nenhum termina como começou. Pode observar", compara.




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