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Moderados consolidam maioria e Dirceu se reelege presidente do PT
Do Diário do Grande ABC
28/11/1999 | 20:32
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Os moderados consolidaram a sua maioria no PT com uma ampla vitória sobre os radicais no 2º Congresso Nacional do partido, encerrado neste domingo, em Belo Horizonte (MG). O resultado incluiu a rejeiçao do slogan "Fora FHC" e a eleiçao, para um terceiro mandato, do presidente da legenda, deputado José Dirceu (SP), da corrente Articulaçao/Unidade na Luta. Mas o triunfo nao foi total. O grupo teve de ceder e aceitar uma emenda à sua tese-guia, intitulada "O Programa da Revoluçao Democrática", para evitar a aprovaçao da palavra de ordem que, na avaliaçao do bloco majoritário petista, desgastaria politicamente o partido e o levaria para uma campanha pelo impeachment do presidente Fernando Henrique Cardoso. Foi a única modificaçao feita no texto.

Logo após ser reeleito, Dirceu afirmou que o "Fora FHC" foi rejeitado porque os delegados petistas concluíram que nao ajudaria o partido. "Sei que temos maioria no PT, mas sei também que nao podemos governar sem buscar a unidade política com outros setores do partido", disse. Na rápida cerimônia de posse, ele elogiou a combatitividade dos radicais e disse que vai abrir o diálogo com todos os setores do partido. "Precisamos desbloquear o PT", observou.

O pronunciamento foi interpretado por Valter Pomar, dirigente do PT, como sinal de que Dirceu tem consciência de que os moderados precisaram fazer concessoes para vencer. Integrante da Articulaçao de Esquerda, Pomar foi irônico: "No discurso moderado, o 'Fora FHC' era golpe e agora é legítimo." Pomar referia-se à única emenda aprovada ao texto do grupo moderado, que reconhece a "autonomia e legitimidade" das entidades do movimento popular para propor o "Fora FHC". Para ele, isso mostra que o PT, em pouco tempo, adotará a palavra de ordem.

Dirceu teve 496 votos (54,8%) de um colégio eleitoral formado por 914 votantes. O deputado Milton Temer (RJ), candidato apoiado por todas as facçoes de esquerda, obteve 296 (32,7%). O outro concorrente, deputado Arlindo Chinaglia (SP), do Movimento PT - grupo de centro no espectro ideológico do petismo -, recebeu 113 votos (12,4%).

Na composiçao do novo diretório nacional, os moderados tiveram 54,49% dos votos, o que lhes garantiu 44 das 81 cadeiras. As tendências de esquerda ficaram com 32,69%, obtendo 27 lugares. O Movimento PT conseguiu 12,71%, o equivalente a 10 vagas no diretório. A vitória dos moderados é mais significativa ainda se for considerado o possível deslocamento que o Movimento PT fará na sua direçao. Além disso, a corrente Democracia Socialista, ala da esquerda light do PT, também está próxima do grupo de Dirceu.

"Sofremos uma derrota numérica, mas nao política", disse o deputado federal Milton Temer (RJ), depois da derrota na eleiçao para a presidência do PT. Ele lembrou que a Articulaçao precisou ceder e aceitar que sua tese fosse emendada no item que se transformou no principal ponto de debate do congresso: o "Fora FHC". "O texto aprovado nao é produto da concepçao original da Articulaçao e recoloca a legitimidade do 'Fora FHC', nao impede nenhum movimento social de pedi-lo", afirmou Temer. O deputado elogiou o Programa da Revoluçao Democrática - documento que vai nortear, daqui para a frente, a atuaçao do PT -, que considerou "nada moderado". E garantiu que, agora, lutará pela unidade do PT.

A tensao entre os moderados aumentou na sexta-feira, quando ficou claro que o "Fora FHC' tinha adeptos até mesmo no seu campo e era majoritário no Movimento PT. O grupo chegou a elaborar três propostas que incluíam a palavra de ordem, em graus diferentes de radicalismo.

Uma delas, que falava em "construir o 'Fora FHC' no futuro", foi repudiada pelo líder do PT na Câmara, José Genoíno (SP), do grupo Democracia Radical. "Esta palavra de ordem nao pode constar dos textos do partido", disse. "Isso arrebenta com o PT e Fernando Henrique e Ciro Gomes (PPS) é que vao faturar." Na trincheira dos moderados, o "Fora FHC" tinha adeptos no grupo PT de Lutas e de Massas, liderado pelos deputados federais Ricardo Berzoini (SP), presidente do diretório paulistano, e Joao Paulo Cunha (SP). Houve intensa negociaçao de bastidores e, até minutos antes da votaçao, na noite de sábado, para decidir se o PT apoiava ou nao o impeachment de Fernando Henrique e a antecipaçao da eleiçao de 2002, os moderados nao tinham certeza da vitória.

Só conseguiram derrubar o slogan em votaçao agitada por palavras de ordem de provocaçao, trocadas pelos delegados. "El, el, el, vocês querem Maciel", gritavam militantes da Articulaçao e Democracia Radical, referindo-se ao substituto legal do presidente, o vice Marco Maciel (PFL). "M, M, M/Abraçaram o ACM", respondiam os radicais, lembrando a participaçao do presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhaes (PFL), no seminário sobre pobreza promovido pelo presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.




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