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Gravadora lança coletânea de Elizeth Cardoso
Gislaine Gutierre
Do Diário do Grande ABC
11/07/2003 | 18:35
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A homenagem é mais que bem-vinda. Mesmo sem haver qualquer data que sirva de pretexto, a gravadora Biscoito Fino coloca nas prateleiras uma caixa com quatro discos (um deles duplo) da “Divina” Elizeth Cardoso (1920-1990). O luxuoso pacote, batizado como Elizeth Cardoso, Faxineira das Canções (R$ 75 em média) reúne álbuns produzidos pelo reconhecido profissional, e amigo, Hermínio Bello de Carvalho.

Há pelo menos duas virtudes nesse lançamento. A primeira é que dá ao público a oportunidade de conferir dois trabalhos ainda inéditos no formato CD e recuperar outros dois discos que estavam fora de circulação.

Os que saem em CD pela primeira vez são o duplo Elizeth/Jacob do Bandolim/Zimbo Trio/Época de Ouro (MIS, 1969) e o simples Luz e Esplendor (Arca Som, 1989). Os “recuperados” são Ary Amoroso e Todo o Sentimento (Belo Bello, 1990).

A segunda virtude é que esses álbuns respondem por momentos históricos. A começar pelo disco que une a cantora a Jacob do Bandolim, Zimbo Trio e Época de Ouro, em um show memorável no Teatro João Caetano, em 1968.

Aquele foi o primeiro encontro no palco de Elizeth com o homem que anos antes mudara o destino da moça que tinha sido pedicure, cabeleireira, telefonista e vendedora de cigarros. Em uma festa, Elizeth, ainda adolescente, atendeu ao convite de Jacob do Bandolim para acompanhá-lo despretensiosamente. Mas a força da interpretação da garota conquistou o perfeccionista bandolinista. E no futuro, uma legião de outros admiradores, que a ruborizavam sempre que a chamavam de “Divina”.

Nesse álbum duplo, Elizeth está com força total. Já tinha mais de 20 anos de estrada e encabeçava a inusitada reunião do tradicionalista Jacob com os modernos do Zimbo Trio. Interpretou maravilhosamente músicas como Cidade Vazia, Luxo Só, Apelo e, a capela, Serenata do Adeus e Canção do Amor Demais. O resultado do show saiu “tinindo”, mesmo com toda a tensão das horas que o antecederam – marcadas sobretudo pelo desentendimento entre Bello e Jacob.

Outro disco importante é Luz e Esplendor, lançado em comemoração aos 50 anos de carreira de Elizeth e que traz a música Faxineira das Canções, de Joyce. Na época, não foi um sucesso comercial. A Divina foi tachada de artista que “não vende” e suas aparições foram escasseando. Era a cantora que não fazia concessões.

Mas é um disco interessante, com faixas como Voltei, Complexo e Felicidade Segundo Eu (com participação de Paulinho da Viola e Dona Ivone Lara). Fora o pot-pourri inicial, que reuniu Alcione, Cauby Peixoto, Maria Bethânia e Nana Caymmi. O disco ganhou cinco faixas bônus selecionadas por Bello.

Os outros dois CDs que integram o pacote foram feitos em seqüência: primeiro veio Ary Amoroso, com a “Magnífica” – outro apelido – cantando apenas canções de Ary Barroso, tais como Inquietação, Camisa Amarela, Folha Morta, No Rancho Fundo e As Três Lágrimas.

O álbum seria um brinde da loja de móveis Itatiaia, e contou com um time de músicos de primeira. Também sobrou verba desse patrocinador para fazer o econômico, mas belíssimo, disco Todo o Sentimento, com Elizeth acompanhada pelo violão do excelente Rafael Rabello, morto em 1995.

E quase o disco não sai. Rafael havia sofrido acidente e machucado seriamente as mãos. Baden Powell até se ofereceu para substituí-lo. De outro lado estava a Divina, lutando contra um câncer detectado dois anos antes. Descansava nos intervalos e depois mandava ver, gravando sempre “de primeira”. Elizeth não chegou a ver o disco prensado. Apenas uma cópia que Bello forjou para alegrá-la.




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