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Pais abandonam filhos em abrigos
Ana Macchi
Do Diário do Grande ABC
24/01/2004 | 18:10
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O abandono de crianças e adolescentes em abrigos é prática constante entre as famílias que têm filhos em situação de risco e que são amparados por lares filantrópicos do Grande ABC. São motivos variados, sempre ligados à pobreza, que levam até 70% dos pais a resistirem em receber os filhos de volta.

A informação é da coordenação de abrigos que recebem crianças por decisão judicial ou orientação do Conselho Tutelar.

Geralmente, é a situação econômica a responsável por uma família desistir do filho. Na região, o índice de desemprego foi de 22,8% em outubro do ano passado.

Problemas psicológicos e estruturais também podem contribuir para o afastamento. “Muitas das famílias que preferem hospedagem à criação em casa têm filhos que vivem na rua e que usam drogas”, comentou o vice-coordenador do Conselho Tutelar I de Santo André, Marcelo Augusto de Oliveira.

O recolhimento pode, muitas vezes, levar à acomodação. “Existem casos de pais que não querem assumir a guarda dos filhos porque não têm condições de oferecer a mesma qualidade de vida do abrigo. Ao contrário do que pensam, pobreza não é critério para abrigamento”, contou Elzi Ferra Silvério Silva, gerente de Cidadania de Ribeirão Pires.

Na cidade, há retaguarda social para a família que optar por ficar com as crianças. “Mandamos os responsáveis para os programas sociais, de complementação alimentar, e encaminhamos para projetos de geração de renda”, observou Elza.

Foi com empenho de psicólogos e de integrantes do Fórum de Diadema que um lar de desabrigados conseguiu reverter um quadro de resistência.

A presidente da Casa de Apoio Raio de Luz, de Diadema, Vera Lucia de Carvalho, convenceu uma mulher a retomar a guarda de seus cinco filhos.

“Além deles, ela trouxe mais três da irmã para ficar na casa, mas não aceitamos. Ela só teve consciência do absurdo da situação quando percebeu que iria perder a guarda de todos eles”, disse.

Retorno – A psicóloga e responsável técnica do Lar do Menor de Mauá Sol da Esperança, Celine do Vale Esteves, afirmou que o número de visitas podem determinar uma intenção de abandono.

“Há 13 crianças com mais de cinco anos de idade que só foram visitadas no início do abrigamento. Algumas moram aqui por três anos, em média”, disse. O lar tem 42 crianças de 0 a 18 anos. “Quem não quer a criança de volta, nem sequer vem ao abrigo fazer o acompanhamento.”

Em Santo André, o Lar Ebenezer fez um levantamento que revelou a vontade de 33% dos pais que tiveram filhos abrigados de deixá-los ali. Atualmente, 16 das 92 crianças atendidas moram no local.

“Há mães que vêem que seus filhos estão bem e se acomodam”, disse Antonio Fernando de Souza, 51 anos, voluntário da casa.

Ele é contra a longa permanência de crianças e adolescentes nos lares, vítimas de omissão do Estado e de parentes. “As crianças devem ficar temporariamente e não três anos. O que elas mais querem é voltar para casa”, disse.




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