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Gestante desnutrida preocupa
Valéria Cabrera
Da Redaçao
02/01/1999 | 18:14
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A Faculdade de Medicina da Fundaçao do ABC vai iniciar no começo do ano letivo, provavelmente em março, uma avaliaçao nutricional em mulheres grávidas de Santo André que fazem pré-natal na rede municipal de Saúde. O objetivo será identificar maes desnutridas ou com ganho de peso insuficiente durante a gestaçao. Essas mulheres têm grande chance de gerar crianças também desnutridas.

Uma avaliaçao piloto foi realizada no segundo semestre do ano passado em 93 gestantes do município e os resultados foram considerados alarmantes, segundo a médica pediatra especialista em nutriçao e metabolismo, Roseli Saccardo Sarni, professora da Faculdade de Medicina ABC. A médica é a responsável pela coordenaçao da pesquisa.

Do total de mulheres avaliadas, 38% apresentaram baixo ganho de peso durante a gestaçao. Segundo ela, há estudos que comprovam que os filhos de mulheres que engordam menos que o necessário durante os nove meses da gravidez correm maior risco de nascer com desnutriçao.

O bebê que nasce com menos de 2,5 kg é considerado de baixo peso, segundo a médica pediatra, e a maioria é desnutrida. Esses bebês têm três vezes mais chances de morrer do que os filhos de mulheres que se alimentam adequadamente durante a gravidez.

Durante a gravidez, é recomendável que uma mulher adulta engorde de 8 a 12 kg até o final da gestaçao, dependendo da sua altura. Já as adolescentes devem engordar uma média de 14 kg. "O resultado desta avaliaçao, feita no ano passado (retrasado) é mais assustador porque analisou mulheres que fazem o exame pré-natal. Tenho certeza de que os resultados seriam ainda piores caso o trabalho fosse feito em mulheres que nao têm acesso a esse serviço."

Para a médica, o grande erro cometido durante o pré-natal é o nao emprego do Gráfico de Rosso, recomendado pela OMS (Organizaçao Mundial de Saúde) para avaliaçao do ganho de peso da gestante. "Além de verificarmos como anda a saúde das mulheres grávidas do município, a avaliaçao servirá de base para uma campanha de incentivo ao uso do Gráfico de Rosso na rede pública de saúde."

O uso do gráfico é simples, segundo a médica pediatra, podendo ser usado por qualquer pessoa depois de algumas explicaçoes.

Segundo ela, os médicos obstetras é que teriam de passar por um treinamento de como agir em casos de constataçao de baixo ganho de peso. "Eles terao de saber como orientar a gestante para que ela ganhe peso, ingerindo alimentos com maior quantidade de calorias", explicou.

Alimentaçao - A médica pediatra, especialista em nutriçao e metabolismo, Roseli Saccardo Sarni, explica que, para a futura mae ganhar o peso necessário durante a gravidez, ela deve ter uma alimentaçao completa. Comer arroz, feijao, carnes, verduras e legumes, além de tomar leite, é essencial, segundo ela. "O bebê precisa de proteínas e calorias para engordar", explicou a médica.

De acordo com ela, até antes de engravidar a gestante deve ingerir aproximadamente 20% mais calorias que as contidas em sua alimentaçao normal. "Isso para que o bebê também ganhe o peso necessário", disse. O ideal é que a criança nasça com mais de 2,5 kg.

A médica explicou que o cigarro compromete a alimentaçao da gestante. "Há uma relaçao direta entre o fumo e a baixa ingestao de alimentos", explicou. Por isso, ela deve parar com o vício durante a gestaçao. Sobrepeso - A mulher que engordar muito também tem de ter acompanhamento médico. A grávida com sobrepeso, de acordo com o gráfico de Rosso, deve fazer acompanhamento da pressao arterial periodicamente, segundo Roseli, pois ela tende a ter pressao alta e os problemas dela decorrentes.

Mortalidade - Das 778 mortes de mulheres em idade fértil - de 10 a 49 anos - no ano de 1997, no Grande ABC, 44 delas tiveram relaçao com a gravidez. O número atingido pela mortalidade materna na regiao, considerado muito alto pela DIR-2 (Direçao Regional de Saúde), tem de ser reduzido.

Para investigar a causa das mortes em mulheres e diminuir o número apresentado, foi reestruturado o Comitê de Estudos e Prevençao da Mortalidade Materna, composto por representantes dos municípios e da DIR-2.   Segundo a coordenadora geral do comitê e do Programa Saúde da Mulher da DIR-2, Silvana Tognini, nao deveria haver mortes de gestantes, seja antes, durante ou depois do parto.

"Nao é um número aceitável. A cada mil nascimentos, uma criança fica órfa. Isso porque a gravidez nao é motivo para a mulher perder a vida", disse.

O que se pretende é que a regiao tenha um registro mais preciso sobre as causas da mortalidade materna. Para isso, o comitê irá procurar fazer com que médicos e instituiçoes de saúde passem a preencher corretamente os registros e atestados de óbitos.

A investigaçao das mortes, segundo a coordenadora, é complicada devido às poucas informaçoes. Geralmente nao há detalhamento das causas da morte obtidas pelos relatórios e declaraçoes de óbito. Assim, os médicos têm dificuldade em tipificar as mortes no parto.




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