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Brasil redescobre Câmara Cascudo
Gislaine Gutierre
Do Diário do Grande ABC
05/05/2001 | 16:41
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  O Brasil está redescobrindo Câmara Cascudo. Quinze anos depois de sua morte, que se completam em 30 de julho, a editora Global relança seis obras do folclorista mais uma série de livros para crianças. Além disso, se prepara para colocar no mercado, até o final de 2002, outros 13 títulos do autor.

 “É como se, de repente, despertasse nas pessoas o interesse pela vida e obra de papai”, diz, contente, um dos filhos do folclorista, o jornalista Fernando Luís da Câmara Cascudo. Segundo ele, em 1998, centenário de nascimento do escritor, um jornal de São Paulo publicou reportagem de destaque sobre o assunto. “Na época, uma pesquisa apontou que havia apenas dez títulos no mercado. Um ano depois, subiu para 30”, explica.

Mas isso ainda é pouco se comparado ao conjunto da obra de Câmara Cascudo. Há quem acredite que ele tenha escrito 120 livros, enquanto outros sugerem um número próximo de 150. “Há controvérsias”, confirma o filho. “Eu mesmo não entro nessa questão porque não me considero biógrafo de papai. Fala-se em 148 livros, mas eu diria que teria de se fazer uma divisão entre as traduções, os publicados e os que ele fez sob encomenda para universidades, mas que não foram às livrarias”.

De qualquer forma, o que a Global coloca de novo ao alcance do público é uma parte bastante significativa de todo o seu conjunto (as fotos de capa de três volumes da coleção estão reproduzidas nesta página). Entre os lançamentos está o importante Dicionário do Folclore Brasileiro (798 págs., R$ 70), que levou 15 anos (de 1939 a 1954) para ficar pronto.

Nada foge da observação de Câmara Cascudo, que nesse livro fala tanto dos santos e dos costumes ligados à religiosidade, como dos personagens típicos do folclore, das cantigas de roda e músicas (parte delas com partitura), e até das crenças populares.

É curioso, por exemplo, o verbete Sexo, no qual ele lista uma série de rituais de adivinhação para tentar descobrir o sexo do bebê que vai nascer. “Pergunta-se à senhora, bruscamente, ‘Que tem na mão?’. Se ela, instintivamente, olhar para a mão direita, será menino, se esquerda, menina”, escreve o autor em um trecho.

Os mesmos temas do dicionário foram tratados com profundidade em outras obras. Um exemplo é Superstição no Brasil (496 págs., R$ 48), que reúne três obras: Anubis e Outros Ensaios, cujo tema principal é a morte; Superstição e Costumes, em que o enfoque é a relação entre coisas e objetos do cotidiano e a crença do cidadão comum; e Religião no Povo, que foca a religiosidade popular.

O capítulo da vassoura, por exemplo, é particularmente interessante. Além da crença de que pode espantar visitas quando colocada atrás da porta, diz o autor que ela pode varrer tudo, inclusive coisas abstratas. “Rapaz ou moça cujos pés foram varridos não conseguirão casar-se”.

Em Antologia do Folclore Brasileiro (328 págs., R$ 35), Câmara Cascudo coloca informações preciosas coletadas a partir de escritos deixados por cronistas dos séculos XVI ao XVIII e viajantes estrangeiros e estudiosos brasileiros dos séculos XIX a XX. Nele, há explicações sobre festas populares e curiosidades como a origem do cafuné.

Câmara Cascudo também se dedicou a levantar dados sobre a influência de outras culturas no Brasil. Como resultado, escreveu, entre outras obras, Mouros, Franceses e Judeus – Três Presenças no Brasil (112 págs., R$ 18) e também o surpreendente Made in Africa (188 págs, R$ 25).

Na leva da Global há ainda o Contos Tradicionais do Brasil (320 págs., R$ 35), uma reunião de cem histórias divididas por temas e contadas por pessoas comuns. Desse acervo a editora retira algumas histórias para compor a série infantil, ilustrada. Desta já estão nas lojas A Princesa de Bambuluá e O Marido da Mãe d’Água (com ilustração de Cláudia Stacamacchia) / A Princesa e o Gigante (16 págs., R$ 15,90 cada livro). Em breve, chegará Couro de Piolho, também para as crianças.




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