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Flanelinhas são
donos das ruas
Camila Brunelli
20/02/2011 | 07:29
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Está cada vez mais difícil encontrar lugares para estacionar o carro sem colocar a mão no bolso, principalmente nas regiões centrais e áreas comerciais do Grande ABC. Os estacionamentos da região cobram de R$ 3 a R$ 8 por hora para guardar os carros em pátios particulares. Para parar em vias públicas - principalmente em áreas de grande movimento -, predominam os estacionamentos rotativos ou o famoso cafezinho aos chamados flanelinhas. Estes, aliás, são os verdadeiros donos das ruas, e alguns ganham até R$ 1.600 por mês.

 

Desenvoltos, os guardadores de carros ajudam os motoristas a estacionar seus veículos e até abrem as portas para as mulheres. À noite, partem para locais de grande movimento, onde já é findado o horário vigente do rotativo.

São Caetano é um exemplo típico: a área de movimentação é tomada pelos estacionamentos rotativos que fazem os motoristas pagarem R$ 1,50 por hora, das 8h até as 18h, período no qual os flanelinhas não são vistos.

Por volta das 19h30, na Rua São Luís, via em que os motoristas costumam deixar o carro para ir aos bares e restaurantes da Avenida Goiás, por exemplo, a equipe do Diário conversou com um flanelinha. Uma moça de 25 anos, mas ela não quis se identificar. "Pode me chamar de Eminem."

 

Geralmente, os guardadores de carros delimitam território. No caso dela, estava apenas "dando uma força" ao dono do ponto - domina a área há cerca de 20 anos -, pois ele estava de folga. Desconfiada, ela não quis contar o quanto fatura por dia: "Não é muito."

"Quando a rua fica muito deserta, as pessoas resistem em deixar o carro. Fica perigoso até para sair, alguém pode abordar", avaliou. "Se alguém colar aqui para roubar o carro, a gente chega e troca uma ideia. Flanelinha tem de estar sempre esperto", comentou.

 

Morador do DER usa da lábia para garantir seu negócio

 

"Aqui a gente trabalha na base do cafezinho." É assim que a maioria dos flanelinhas conhecidos da região garantem até R$ 1.600 mensais. Miltom Alves de Góes, o Corintiano, de São Bernardo, é um deles.

 

Aos 48 anos, já é viúvo e sustenta dois filhos e um neto. "Aqui, quando o movimento tá bom, dá pra tirar de R$ 80 a R$ 100 por dia. A pessoa dá o quanto acha que a gente merece", disse. "É bobagem cobrar valor fixo. Tem lugar que se a pessoa não paga, os caras riscam o carro, roubam rádio."

Morador do DER, Corintiano está no pedaço há pelo menos dez anos. "Já me ofereceram R$ 8 mil pelo ponto e eu não vendi. Se pegasse aquele dinheiro, ia gastar."

 

Ambicioso, ele diz que conseguiu um emprego em Santos e que vai deixar um gerente em seu lugar, para não perder o ponto. "Quero juntar dinheiro para comprar uma chácara na balsa (na região do Riacho Grande)", revela. O cuidado tem uma explicação: caso não dê certo, volta a atuar nas ruas do entorno do Poupatempo.

 

Ninguém nunca tentou pegar seu ponto ou roubar carro de algum cliente. "Se acontecer, eu chego, explico que é meu ganha-pão e que também sou favelado, que daquele jeito ele vai atrasar meu lado", explicou. "Graças a Deus, não devo nada para a polícia."




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