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Brasil se aprofunda com debates e conselho de técnicos para brilhar no Rio-2016
31/07/2016 | 08:10
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Como multiplicar as vantagens e neutralizar as desvantagens de competir os Jogos Olímpicos em casa? Essa é a pergunta que o Comitê Olímpico do Brasil (COB) trabalha para responder aos atletas desde que o Rio ganhou o direito de sediar a competição, em 2009.

A entidade foi em busca da opinião dos britânicos, que viveram situação semelhante, para elaborar a melhor estratégia de ação. Se a "fórmula mágica" vai dar resultado positivo, só o tempo vai mostrar ao longo da competição. A primeira ação adotada foi criar um conselho de treinadores para debater o caminho a ser trilhado pelo Brasil. Foram 15 encontros e 40 técnicos engajados no processo neste ciclo olímpico.

"Não adianta você fazer um livro de regras. Ter técnicos como Bernardinho (vôlei) e Jesus Morlán (canoagem velocidade) conversando com os atletas fica muito mais crível do que um cara que nunca viram", explica Marcus Vinícius Freire, diretor executivo de Esportes do COB.

A meta é repetir a tradição e fazer o país-sede ter seu melhor resultado na história da Olimpíada. Com 465 atletas, o Brasil bateu o seu recorde de participantes e atingiu o primeiro objetivo traçado.

A familiaridade com os locais de treinamento é um dos itens da lista de pontos a favor apontados por esse grupo. Conhecer os ventos e marés da Baía de Guanabara com antecedência, por exemplo, colocaria os brasileiros um passo à frente dos rivais. "A vantagem de estar em casa é conhecer as condições locais. Todo mundo tenta vir com a maior frequência possível. Cada lugar tem seus macetes. Aqui, por acaso, tem muitos", diz Torben Grael, coordenador técnico da vela do Brasil.

Já a presença da torcida tem dois lados, o da motivação ou da ameaça. Para Nélio Moura, do atletismo, qualquer esportista bem preparado irá se beneficiar com a energia das arquibancadas. Ele reconhece, entretanto, que os fãs que vão aos Jogos Olímpicos não são especialistas nas modalidades e podem ter comportamentos impróprios em alguns esportes, como ocorreu durante os Jogos Pan-Americanos do Rio, em 2007.

A relação de pontos negativos foi bastante discutida. E a distração é o mais preocupante. O deslumbramento com a Vila Olímpica é um dos riscos apontados pelo ex-judoca Flávio Canto. "Você está toda hora tentado a achar que atingiu o seu sonho, se quiser chegar mais longe, não pode deixar isso passar na sua cabeça", aconselha.

Outro motivo de atenção é o uso excessivo das redes sociais. E Marcos Goto, técnico do ginasta Arthur Zanetti, é bastante radical nesse aspecto. "As restrições são totais. Quem está trabalhando comigo, quando coloca o pé na Vila, é zero de internet. Tem de ter foco total na competição", justifica.

Apesar de não ter sido proibida pela comissão técnica do judô, Mayra Aguiar resolveu por conta própria abandonar o mundo virtual. "Eu saí de rede social, estou falando só com meus pais e namorado para focar no treino e na Olimpíada. Se excluir é muito bom", conta.

O contato com amigos e familiares também está na mira do COB. Para evitar tumulto na Vila Olímpica, a entidade criou um espaço específico para esse encontro com o atleta. Além disso, a abordagem de pessoas próximas aos competidores em busca de ingressos para os Jogos Olímpicos é frequente. Fábio Chiuffa, do handebol masculino, já enfrentou a situação.

Para difundir as informações, o Comitê promoveu oito palestras com 308 atletas - 249 garantiram a classificação - em um programa que chamou de "Integração". E ainda criou um canal de comunicação pelo WhatsApp para sanar as dúvidas.

JUDÔ SE ISOLA - Desde os Jogos de Atenas, em 2004, o judô brasileiro se hospeda fora da Vila Olímpica na reta final de preparação. Manter a concentração na competição, nos horários das atividades e nos treinamentos é a principal justificativa para os judocas se afastarem do clima olímpico.

"É bom blindar um pouco a equipe e, o mais importante, manter a qualidade do treinamento até o último instante", diz Ney Wilson, gestor técnico de Alto Rendimento da Confederação Brasileira de Judô. "É uma competição longa, de sete dias. Também conseguimos treinar aqueles que vão lutar por último."

Outra preocupação dos dirigentes é a diferença de cronograma de cada modalidade. Wilson explica que consegue administrar os horários da equipe de judô, porém, no alojamento, é difícil exercer controle sobre as equipes de outros esportes.

Os atletas são favoráveis ao isolamento. Rafael Silva, o Baby, conta que eles estão no "fuso Mangaratiba". A equipe masculina vai para a cama às 22h, enquanto a feminina tem 30 minutos de bônus. Os horários foram discutidos entre os atletas e a comissão técnica democraticamente.

Para Victor Penalber, estreante na Olimpíada, ainda não é o momento de viver o clima olímpico. "O foco tem de ser total no treinamento, esse clima que foi criado é muito importante."

A escolha por um resort em Mangaratiba, distante 100 km da cidade do Rio de Janeiro, foi sobretudo técnica. Até a dificuldade de chegar até a praia foi levada em consideração. A comissão queria um lugar que permitisse realizar treinos físicos e também específicos, preservando a privacidade dos atletas. "Ele acabou caindo como uma luva para nossas necessidades. Aqui é o paraíso para eles estarem focados", afirma Ney Wilson. / COLABORARAM GONÇALO JUNIOR e CLARISSA THOMÉ.




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