Setecidades Titulo Iniciativa
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
25/07/2016 | 08:40
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Denis Maciel/DGABC


Na linha do que diz a canção Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores, de Geraldo Vandré, alguns moradores do Grande ABC realmente não esperam pela ação do poder público – que muitas vezes tarda ou sequer vem, – e fazem a diferença para transformar onde vivem em um lugar melhor.

O eletricista de manutenção aposentado Francisco Cano Manfrim, conhecido como Kiko, 73 anos, mora na Vila Vivaldi, em São Bernardo, há 15, e sentia falta de algo que pudesse beneficiar os moradores idosos do bairro, público com quem atua na Associação Comunitária Santa Edwiges. O incômodo da falta de uma atividade nova era o mesmo que sentia quando via, na Rua Itaguassu, a situação de terreno de propriedade da empresa Transpetro. “Era cheio de mato, lixo e entulho”, lembra.

Apaixonado desde os 17 anos por um esporte tido como de elite – o golfe –, quando conheceu um mini-campo do esporte e aprendeu como se jogava, não hesitou: o terreno do bairro poderia ser um campo parecido, onde ele ensinaria a prática ao pessoal da terceira idade. Kiko contatou a empresa, explicou a ideia e, passado um ano, recebeu autorização para colocá-la em prática. Mas teria de arcar com o projeto sozinho e, no fim de 2014, deu início à ação. “Tirei oito caçambas de entulho, pintei o muro, as pessoas falavam que eu ia morrer de cortar mato. Eu e Deus fizemos tudo”, relata.

Ao redor do campo, Kiko fez pista de caminhada. Inicialmente, a única coisa que remetia ao golfe era a bolinha. Os tacos eram cabos de vassouras velhas e os buracos feitos com garrafa pet. Uma filha que vive em Portugal comentou com amigos sobre o projeto do pai e eles o presentearam com dez tacos e 30 bolinhas.

O aposentado criou nove pistas para a prática do esporte, cada uma para um nível de aprendizado. No centro do campo, a grama foi cortada de maneira a formar a bandeira do Brasil. “É uma arte minha”, orgulha-se.

Kiko gostaria de ter mais equipamentos para atender plenamente o grupo de 30 idosos participantes, além de uma nova máquina de cortar grama, para substituir a que está nas últimas. “Mas com a minha aposentadoria (R$ 1.400), não consigo”, lamenta. No entanto, as dificuldades não o detêm. “Sinto-me realizado, porque vejo que o pessoal gosta, sem contar que é uma higiene mental e física fora de sério”, fala.

“Kiko se preocupa com o bem estar dos idosos e tem iniciativa para ver como pode melhorar. Ele é uma benção”, destaca Elenice Baxmann, 71, que venceu o primeiro campeonato de golfe promovido por Kiko, no dia 14, recebendo placa de congratulação.

SANTO ANDRÉ

Na cidade andreense, quem também transformou área degradada foi o comerciante Ademir Perez, 49. Seu estabelecimento de ferragens e utilidades para casa fica na Avenida Professor Luiz Ignácio de Anhaia Mello, na Vila Homero Thon, por onde passa o Córrego Cassaquera, que tem 5,3 quilômetros de extensão. 

Na tentativa de liquidar o descarte irregular de lixo, ao menos na área próxima ao comércio, transformou madeiras abandonadas em placas com frases de consciência ambiental. Uma delas, por exemplo, conta a história de um pai que foi ao estabelecimento e comentou com o filho que, naquele córrego hoje poluído, um dia ele pescou e nadou. “Também plantei várias árvores. Têm frutíferas e de folhagens. Com isso, as pessoas começaram a ver vida no local”, fala Perez que, tímido, preferiu não ser fotografado. Quem aparece na imagem é Yago Ramon Vitoriano, 16, morador do bairro que cresceu acompanhando o trabalho de conscientização feito pelo comerciante. 

 “Quando eu tinha 6 anos, já ficava rodeando o que ele fazia, sempre achei legal”, recorda. O adolescente se transformou em aliado de Perez na multiplicação das informações. “Passo para os meus amigos e minha família, e brigo quando vejo alguém jogar um papel de bala que seja no chão”, frisa o jovem, levando para a vida o conselho de uma das placas. “O mundo não muda se você mandar, ele muda se você mudar.”




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