Por enquanto, o Akymoro está em Salvador, assim como o navio-veleiro Cisne Branco, da Marinha.
Após deixar a capital baiana, o Akymoro segue com a flotilha até o Rio de Janeiro, porto final da regata. Fica cinco a seis meses na costa brasileira e desce até o fim do continente sul-americano. Entra no Oceano Pacífico e segue direto para as ilhas da Polinésia. "Todos os artistas que estiveram lá ficaram maravilhados e achamos que também vamos ficar", conta José, com brilho nos olhos.
A vontade de conhecer essa regiao é tanta que eles planejam ficar dois anos no Pacífico. E durante esse tempo, passar um inverno na Nova Zelândia e outro na Austrália. Antes de voltarem a Lisboa, passam ainda por Cingapura, Ceilao, India, Quênia, Moçambique, Africa do Sul e toda a costa ocidental africana.
"Vamos tentar seguir a rota de Fernao de Magalhaes, estar onde ele esteve e onde ele morreu", explica José, referindo-se ao navegador português que comandou a primeira circunavegaçao da Terra, em 1519, mas nao completou a viagem porque morreu nas Filipinas.
Da India em diante, o casal vai seguir pelo caminho aberto por Vasco da Gama em 1498, quando descobriu o caminho marítimo para a terra das especiarias.
Falando em história e descobertas, José se lembrou que é descendente do próprio Vasco da Gama e também do cartógrafo do século XV Filipo Perestrello, cuja neta foi casada com Cristóvao Colombo. Para comprovar, mostrou uma extensa e muito ramificada árvore genealógica: "Até hoje, a família tem uma quinta que a coroa portuguesa ofereceu naquela época ao Perestrello. Minha família é muito ligada aos descobrimentos e eu sempre quis fazer uma volta ao mundo de veleiro."
José e Cristina se conheceram em janeiro de 98 e em outubro, começaram a sair juntos. "No primeiro jantar, combinamos de atravessar o Atlântico. Eu nao agüentava mais viver em cidade grande", lembra Cristina, referindo-se a Lisboa. A idéia foi crescendo e durante uma viagem à Grécia, resolveram ousar mais e atravessar logo todos os mares.
O tempo era curto e em seis meses, eles tiveram que vender o carro, desmontar e vender a casa, comprar e montar o barco - um Super Maramu 2000 de 53 pés (16 metros) que, segundo José, custa US$ 650 mil. Entre créditos e débitos, o déficit foi de 50%.
O Akymoro é caro, mas tem máquina de lavar e secar roupa, lava-louça, máquina de fazer pao, motor para atracaçao, aparelho de DVD. É um luxo.
E tem uma capota que fecha completamente a parte externa onde fica o timao. Mas na hora de manobrar velas, duas pessoas dao conta? Sim, porque todo o controle dos cabos está reduzido a um painel cheio de botoes. Até a cartografia é eletrônica.
"Temos tudo isso e mais um monte de sonhos na cabeça", diz José, que ficou fascinado com a simplicidade dos velejadores brasileiros: "Nós estamos no meio de pessoas que fizeram coisas tao fantásticas e sao normais, como eu, como você. Veja o Amyr Klink. Em Portugal, alguém que tenha feito Lisboa-Madeira (uma viagem curta e simples) é tao arrogante que você nem chega perto."
José e Cristina já estao planejando uma grande festa para o ano 2001, quando completam juntos 75 anos - hoje, ele tem 49 e ela, 24. José, meio calvo, nao é um tipo atraente. Já Cristina, a musa da regata, arranca suspiros dos marujos, que dariam tudo para velejar uma milha que fosse com ela. Eles nao sao casados, namoram.
E como adoram sushi e sashimi, resolveram dar um formato japonês para a expressao 'aqui moro': deu Akymoro.
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