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Pé na estrada antes do sol raiar
Andrea Catão Maziero
Do Diário do Grande ABC
04/08/2001 | 18:42
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São 4h. A movimentação nas ruas é pequena, mas constante. Esse é o horário em que começam a funcionar os primeiros ônibus e as primeiras composições de trem. É também o horário que saem de casa as pessoas que moram longe e pegam cedo no batente. Em Rio Grande da Serra, por exemplo, o primeiro trem na estação ferroviária com destino à Luz, no Centro de São Paulo, sai às 4h05. Nele embarcam os passageiros que entram no trabalho por volta das 6h e fazem longa viagem até a capital ou a regiões de difícil acesso.

É o caso do soldador Daniel Clementino, 35 anos, morador do bairro Santa Tereza. Quando sai, ainda não amanheceu e só vai retornar quando o sol já se pôs. Daniel trabalha em uma empresa no Jaguaré, zona Oeste da capital, do outro lado do mapa, na divisa com o município de Osasco. Ele pega duas linhas diferentes de trem e ainda faz dois trechos longos de caminhada. Isso tudo só de ida.

Daniel acorda às 3h30. Meia hora depois, sai de casa e caminha 30 minutos até a estação de trem, de onde vai até a Barra Funda. Desce do trem e utiliza outro – com sentido Itapevi – e desce na Vila Leopoldina. Finalmente, caminha por mais meia hora para chegar ao seu destino. São mais de duas horas e meia de viagem e, às vezes, ainda não consegue bater o cartão às 7h, seu horário de entrada.

Ele reclama, com razão, que não sobra quase tempo para ficar com a mulher e as três crianças. “Mas todos têm de comer e não dá para abandonar o emprego. Arrumar trabalho não é fácil, ainda mais quando a gente passa dos 30”, disse.

A rotina do auxiliar de almoxarifado Sebastião Coutinho, 54 anos, que também mora em Rio Grande, não é muito diferente. Ele trabalha na regional da Sé da Prefeitura de São Paulo há 31 anos. Todos os dias às 4h ele sai de casa, no Jardim Lavínia, e caminha 40 minutos até a estação. Desce na Luz e vai a pé até a regional. São mais 25 minutos de caminhada.

Em casa, não sobra tempo para muitas atividades. “Tomo um banho, janto e vou dormir.” O salário de Sebastião não chega a R$ 600 – fora alguns benefícios. Com esse dinheiro, paga R$ 250 de aluguel e ainda sustenta mulher, um filho, uma nora e mais quatro netos.

O auxiliar de limpeza Gutemberg Ramalho, 28 anos, também é obrigado a madrugar. A demora em chegar ao trabalho, segundo ele, não é a distância, mas sim as inúmeras conduções que deve utilizar. “De carro, levo 40 minutos de Diadema (onde mora) até a Vila Prudente (zona Leste da capital, divisa com São Caetano). Mas de condução demoro mais de três horas”, disse.

Gutemberg mora no Sítio Joaninha e utiliza um ônibus até o Centro da cidade. De trólebus vai até São Bernardo, depois utiliza outra linha até São Matheus. “Ainda tenho de pegar mais duas linhas de ônibus. Uma até o Parque Dom Pedro II e outra até a Vila Prudente.”




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