Carlos Boschetti Titulo Análise
Antes de melhorar, piora!
Carlos Boschetti
28/04/2016 | 07:25
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Na Argentina, o novo presidente não perdeu tempo em reformar a economia. Por ora, os resultados são dolorosos. Mauricio Macri está na Casa Rosada há apenas quatro meses. Os controles cambiais impostos pela antecessora de Macri, Cristina Kirchner, mantiveram o peso artificialmente valorizado, inviabilizando as exportações. Em dezembro, quando Macri permitiu que o câmbio flutuasse livremente, os exportadores se empolgaram, pensando em ampliar as vendas para Estados Unidos e Reino Unido neste ano. Mas, por enquanto, seus produtos estão sendo consumidos basicamente por argentinos.

Macri, cuja eleição pôs fim a 12 anos de governos populistas, sob o comando de Cristina e de seu marido, o falecido Néstor Kirchner, tem sido festejado no Exterior. O novo presidente encerrou impasse de 14 anos com os credores internacionais do país; em março, recebeu a visita de Barack Obama. Para a maioria dos argentinos, porém, a vida está piorando. A inflação anual aproxima-se dos 40%, segundo estimativas independentes. É a mais elevada da América Latina, depois da venezuelana. O preço da carne subiu 44% em 12 meses.

Estudo da Universidade Católica informa que, entre janeiro e março, 1,4 milhão de argentinos foram empurrados para baixo da linha da pobreza. Macri herdou as altas taxas de inflação. Durante o reinado de Cristina, o Banco Central emitia dinheiro para pagar um sem-fim de subsídios, que no ano passado chegaram a 4% do PIB (Produto Interno Bruto). Mas as medidas que o novo presidente tomou para estabilizar a economia fizeram com que as coisas ficassem – temporariamente – piores.

A livre flutuação do peso, que tem por objetivo tornar as exportações competitivas e estancar a sangria das reservas internacionais, pressionou a inflação. Mesmo efeito teve a redução dos subsídios ao consumo de eletricidade, água, gás e transporte, que contribuíram significativamente para o deficit fiscal de 5,8% do PIB em 2015. No dia 8, as passagens de ônibus e trens em Buenos Aires dobraram de preço. De dezembro até agora, o setor público dispensou quase 11 mil funcionários. A economia deve sofrer retração de 0,5% neste ano.

Macri advertiu os argentinos de que o remédio seria amargo, mas não avisou que causaria vertigens. Seu governo não deve cumprir a meta de inflação de 2016, fixada entre 20% e 25%, em parte porque as poderosas centrais sindicais do país reivindicam aumentos salariais da ordem de 30%. O ministro de Finanças, Alfonso Prat-Gay, agora promete que a inflação cairá no segundo semestre do ano e prevê um índice de 17% para 2017.

Uma razão para o otimismo do ministro foi o retorno da Argentina ao mercado internacional de capitais. Em 13 de abril, decisão da Justiça de Nova York abriu caminho para que o país pague os detentores de títulos que se recusaram a participar das rodadas anteriores de reestruturação da dívida. Com isso, após 14 anos de jejum, a Argentina emitiu na semana passada US$ 16,5 bilhões em títulos, na maior operação já realizada por país emergente. Os investidores fizeram ofertas de compra de US$ 68,6 bilhões.

A maior parte dos recursos captados será destinada ao pagamento desses investidores. O restante será usado para cobrir as despesas do setor público, reduzindo a necessidade de financiar o deficit com mais inflação.

O governo argentino aposta que o retorno ao mercado de crédito estimulará as empresas estrangeiras a investir no país. Os sinais, por ora, são animadores. No entanto, é possível que a retomada dos investimentos não aconteça em ritmo acelerado o bastante para funcionar como a injeção de ânimo com que conta o governo. Maior parceiro comercial do país, o Brasil vive sua pior recessão desde os anos 1930.

Os argentinos estão dando ao presidente o benefício da dúvida. Se a inflação não recuar até o fim do ano, podem se voltar contra ele. 




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